Opinião

Alvará de igreja tem que ser revisto

O episódio que envolve a Igreja Mundial do Poder de Deus em Guarulhos merece várias discussões. Quem acompanhou as declarações do líder dessa religião, o autointitulado apóstolo Valdemiro Santiago, na última sexta-feira pode perceber que ele tentou de todas as formas tirar do foco do debate o verdadeiro problema que cerca sua obra. A liminar concedida pela Justiça para interdição do templo, acatando ação popular impetrada pelo vereador Geraldo Celestino (PSDB), jamais entrou no mérito sobre o direito da profissão de fé e muito menos em relação a Deus. Tudo se concentrou na concessão do alvará pela Prefeitura de Guarulhos sem que a igreja apresentasse as mínimas condições para seu funcionamento. E não partiu do nada: tinha como referência os graves problemas viários em todo o entorno no dia 1º.


Ou seja, diferente do que quis fazer parecer Santiago, as reportagens publicadas assim como a ação do vereador e decisão da Justiça, não se trataram de perseguição a ele ou a Deus – como frisou inúmeras vezes em suas declarações, ao vivo no programa de televisão que transmite quase 24 horas por dia as pregações de sua religião. Diferente disso, o papel da imprensa, dos políticos sérios e da Justiça foi justamente o de defender os interesses da população, independente de suas preferências religiosas.


Lamentavelmente, Santiago – que se diz um instrumento de Deus na terra e assim é visto por seus fiéis – pregou a discórdia. Diversas vezes ameaçou paralisar a rodovia Presidente Dutra e “até o Brasil” se sua vontade não prevalecesse. Quando recebeu a ordem judicial impedindo a realização da vigília, diferente das pessoas de bem, preferiu a desobediência e, mais uma vez, tentou jogar seus seguidores contra  aqueles que pediram o fechamento do espaço.


Desta vez, os problemas foram minimizados e se concentraram na madrugada. Mas isso só ocorreu em virtude do poder público ter dispendido centenas de funcionários – pagos com dinheiro da população – para manter a ordem. O número de pessoas presentes também foi bem menor que o do primeiro encontro. Porém, ninguém pode aceitar que Prefeitura, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros, NovaDutra tenham que ficar a serviço de uma igreja toda vez que ela realizar um evento. Isso, além de insano, traz prejuízos aos setores públicos. O mais correto é a revisão – ou mesmo a suspensão – do alvará concedido sem se pensar na coletividade.

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