Resultados corporativos fortes do quarto trimestre de empresas brasileiras e sinais de arrefecimento na tensão geopolítica, diante da informação de retirada de algumas tropas russas de perto da fronteira com a Ucrânia estimulam alta do Ibovespa. As bolsas europeias e a indicação de abertura para cima também nos Estados Unidos refletem a disposição de diálogo entre as partes envolvidas neste conflito.
"Hoje, os mercados são impulsionados no sentido contrário. Tem um fluxo de correção de um boato que se observou ontem e hoje vem mais forte", avalia Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, ponderando, contudo, que o quadro ainda merece ser avaliado com cautela.
Na segunda-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse ter sido avisado de que a Rússia iria invadir o país na quarta-feira. Depois, um alto funcionário de seu governo afirmou se tratar de uma ironia. Na Rússia, por sua vez, o chanceler Serguei Lavrov admitiu que há possibilidade de uma solução diplomática.
Ao mesmo tempo, o reforço do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, de que a autarquia continuará atuante para convergir a inflação à meta em 2023, sugerindo que a Selic seguirá elevada por mais tempo também é bem avaliada pelo mercado. Isso porque indica de credibilidade, comprometimento do BC com a convergência inflacionária à meta. Com isso, o País tende a prosseguir atraindo recursos, especialmente para a Bolsa e o câmbio. No acumulado do mês até sexta-feira, os investidores estrangeiros entraram com R$ 13,072 bilhões na B3.
"Tem justamente o ponto que é muito importante, que é a credibilidade e que fica atrelada ao fluxo do exterior. Além disso, a Bolsa está descontada. Ativo depreciado somado a aumento iminente de juros nos EUA tende a resultar em migração desse capital de maior risco. Pode ser bom para a Bolsa", completa Cozzolino.
O PPI, índice de inflação ao produtor dos Estados Unidos, subiu 1% em janeiro, ante dezembro, na comparação com previsão de 0,5%. Já o índice de atividade industrial Empire State avançou a 3,1 em fevereiro, contra projeção de analistas de 10.
No entanto, o declínio das commodities limita alta do Ibovespa, provocando queda nas ações da Petrobras e da Vale. Nem a informação de que a maioria da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) se posicionou de forma favorável em processo trabalhista que poderia custar à estatal R$ 47 bilhões. "Poderia fazer preço alta nas ações. Claro que é um passo à frente em termos de contabilidade da empresa, pois trata-se de uma dívida bilionária. Porém, foi uma suspensão, não é definitivo. O Judiciário pode fazer mudanças, dado que é maleável", avalia Victor Hugo Israel, Especialista em Renda Variável da Blue3.
O petróleo cai na faixa de 3%, em correção às recentes altas, e o minério de ferro teve recuo de quase 10% (-9,98%) no mercado futuro chinês (Dalian) e de 8,99% no à vista (porto chinês de Qingdao, a US$ 134,88 a tonelada. O declínio vem na esteira de medidas da China contra especuladores desse mercado.
"O governo chinês está tentando fazer com que o setor imobiliário não desmorone ainda na esteira da crise da Evergrande. É bem importante, representa em torno de 20% do PIB. Mas o minério também passa por uma correção, e o mercado tem de encontrar um motivo para realizar, e esse motivo é bem factível", afirma Israel, da Blue3.
Na seara corporativa, além de avaliar o crescimento no lucro do Banco do Brasil (BB) no quarto trimestre, o investidor também se debruçará sobre as provisões da instituição, o que pode estimular alta das ações do BB e do setor.
As ações subiam quase 5% perto de 11h20. O Ibovespa tinha alta de 0,29%, a R$ 114.226,49 pontos, ante máxima aos 114.527,75 pontos (alta de 0,55%).
"Resultados corporativos animam. BB teve lucro recorde e puxa setor como um todo", descreve o Especialista em Renda Variável da Blue3. "Alta de juros nos EUA em tese seria ruim para emergentes, para mas o cenário positivo para commodities faz com que exportadores tenham fluxo positivos, beneficiando assim o câmbio, e o Ibovespa", diz Israel.
O lucro líquido ajustado do Banco do Brasil no quarto trimestre de 2021 foi de R$ 5,93 bilhões, alta de 60,5% ante igual período de 2020. No ano de 2021, a cifra foi de R$ 21 bilhões, aumento 51,4% na comparação com 2020 e recorde histórico para a instituição. A previsão do BB é lucrar novo recorde – algo entre R$ 23 bilhões e R$ 26 bilhões em 2022 – e aumento gradual da inadimplência.
Já a Itaúsa apresentou lucro líquido de R$ 4,117 bilhões no quarto trimestre, elevação de 12, 4% em relação ao mesmo período de 2020. As ações da Itaúsa subiam 0,76%.