Estadão

Alívio externo estimula alta do Ibovespa, mas espera por âncora fiscal limita

A valorização das bolsas internacionais e do petróleo, em meio ao alívio em torno dos temores com o setor bancário, na véspera da decisão sobre juros nos Estados Unidos, estimula alta do Ibovespa nesta terça-feira, 21. Em dia de agenda de indicadores esvaziada, seguem no centro das atenções as preocupações com o arcabouço fiscal. Provavelmente, o plano não será apresentado antes do Comitê de Política Monetária (Copom), que define a Selic na quarta-feira, o que gera apreensão no mercado.

"Está um pouco menos líquido por conta da espera do Copom, não tem divulgação de indicadores. O mercado negocia mais na expectativa", avalia Alan Dias Pimentel, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.

Ontem, o giro financeiro na B3 foi de apenas R$ 19,1 bilhões, bem aquém da média diária de cerca de R$ 26 bilhões.

Ainda que a estimativa seja de manutenção da Selic em 13,75% ao ano no Copom de amanhã, o especialista da Blue3 diz que a ata do comitê, que sai daqui a uma semana, gerará grande expectativa. "Isso porque pode trazer sinais sobre os próximos passos, determinar quando os juros poderão começar a cair, ou não."

Fica no radar dos investidores a entrevista que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concede a um site independente no período da manhã. Por ora, disse que fará o marco fiscal, "quero mostrar ao mundo que tenho responsabilidade." Além disso, o mercado acompanhará a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em seminário do BNDES.

Ontem, o ministro levou a proposta das novas regrais fiscais aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que "receberam bem" o plano. "O lado bom é que esses dois integrantes que estão fora do governo elogiaram as regras. Cria um certo otimismo", completa Pimentel.

Haddad apresentou nesta segunda-feira as linhas gerais da nova regra, que reforça a necessidade de equilíbrio e responsabilidade fiscal para conter gastos. "Até agora, o governo não entregou nada de concreto, fica só na narrativa. Aparentemente o arcabouço não sairá antes do Copom, o que preocupa, gera insatisfação do mercado, que coloca no preço", avalia em comentário matinal o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

A demora em apresentar as novas regras fiscais fez o Ibovespa destoar de Nova York ontem. O índice Bovespa fechou em baixa de 1,04%, aos 100.922,89 pontos.

Hoje, ajuda no bom humor externo a notícia de que autoridades americanas estudam expansão do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), caso os problemas no sistema bancário se agravem, informa a Bloomberg. Há também a esperança de que o Fed faça uma pausa nos aumentos de juros amanhã, embora a maioria dos analistas preveja mais uma alta de 25 pontos-base, igual à do mês passado. Além disso, o JPMorgan estuda ajudar a socorrer o First Republic Bank.

"As bolsas do exterior sobem mais por conta um rali, após a solução de curto prazo para o Credit Suisse. Ao que tudo indica não há contaminação para outros bancos europeus. As ações do setor sobem também nos Estados Unidos", cita Pimentel, da Blue3.

Também gera algum alívio por aqui a notícia de o governo deve anunciar nos próximos dias um aumento no valor do teto de juros cobrado no empréstimo consignado a beneficiários do INSS. O Executivo busca uma solução "meio-termo" entre 1,8% e 2,0% ao mês. As ações de grandes bancos sobem no Ibovespa.

Às 11h06, o índice Bovespa subia 0,43%, aos 101.357,40 pontos, ante máxima diária aos 101.670,35 pontos, em alta de 0,74%, e mínima aos 100.922,79 pontos (mesmo da abertura). Com o petróleo avançando, as ações da Petrobras subiam mais de 2%, enquanto as da Vale cediam 1,04%, em meio ao recuo de 2,22% do minério de ferro em Dalian, na China. Em Nova York, os ganhos iam até 0,95%.

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