Estadão

Alvos da PF por ações extremistas organizam atos no 7 de Setembro

Pelo menos 25 militantes e canais investigados por ações extremistas e notícias falsas estão na linha de frente da mobilização para o 7 de Setembro. Eles reúnem um total de 30 milhões de seguidores. O grupo de radicais incentiva a presença nas ruas no feriado e fala em mortes entre "inimigos do Brasil", "expulsar demônios" e fim dos "discursos moderados" contra a "tirania".

Há um mês o <b>Estadão/Broadcast</b> monitora os influenciadores radicais, que argumentam usar "figuras de linguagem" nas redes. Mas eles têm um histórico de ações reais de violência política, como a invasão ao plenário da Câmara, em 2016, além de citações nos inquéritos dos atos antidemocráticos e das fake news, de 2020, e o da desmonetização de canais que faturavam com desinformação, do ano passado.

Atualmente, o grupo se articula no entorno do discurso de ataque do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal (STF), em especial ao ministro Alexandre de Moraes. O ato promovido pelo presidente está previsto para Brasília, Rio e São Paulo.

Candidata a deputado federal pelo PTB de Santa Catarina, Dileta Corrêa da Silva organiza a manifestação em Balneário Camboriú. Há seis anos, ela e outros 56 militantes formaram o movimento que quebrou a porta de vidro do plenário da Câmara e invadiu o local para defender a intervenção militar. "Faria tudo novamente e faria até melhor, chamaria mais pessoas, colocaria mais pessoas no plenário", afirmou Dileta ao <b>Estadão/Broadcast</b>.

Após a invasão, ela foi proibida de entrar na Casa e teve de ir ao STF para restaurar o direito de entrar no local. Seus advogados defendem a invasão, alegando que o ato foi "o mais espetacular" dos quais ela participou. A defesa de Dileta convenceu o ministro Edson Fachin, que decidiu a favor dela, contrariando a opinião do Ministério Público Federal.

Candidato à Presidência, mas com registro cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Roberto Jefferson, que está em prisão domiciliar, divulgou vídeo cobrando de Bolsonaro uma reação dura contra Moraes para garantir que as pessoas se manifestem. Ele classificou o ministro como chefe da "milícia judicial" e disse que o presidente deveria mandar prender os atiradores de elite escalados para a segurança do ato em Brasília.

"É o Xandão que vai estabelecer o que o povo pode fazer em 7 de setembro? Ano passado foi um fracasso, você fez um discursinho meia boca com medo de não sei o quê e agora você vai deixar eles mijarem em você? Poste não mija em cachorro, Bolsonaro. Reaja, Bolsonaro, ou acabou. Ou pede o boné e acabou."

<b>SEM MODERAÇÃO</b>

Foragido da Justiça brasileira, o blogueiro Allan dos Santos estimulou, em e-mail a seguidores, mais ação. "Não dá mais para usar o discurso moderado como ferramenta contra a tirania", escreveu. "Por isso, 7 de setembro será um dia tão importante. O dia em que vamos mostrar que nada pode ser maior que a força popular." Procurado, ele não respondeu.

Entre os influenciadores que tiveram o faturamento de canais barrados pela Justiça Eleitoral está Camila Abdo. Na última quinta-feira, ela promoveu live no YouTube com o comentarista José Carlos Bernardi, que foi demitido da rádio Jovem Pan após sugerir "matar um monte de judeus" para o Brasil enriquecer – ele agora é candidato a deputado estadual em São Paulo pelo PL.

Na transmissão, Bernardi citou trecho da Bíblia que narra uma guerra e afirmou que a manifestação da quarta-feira, 7, será um "marco de libertação". "Esse rebuliço acontecerá agora no 7 de Setembro entre os inimigos do Brasil, eles mesmos vão se matar." Em seguida, os dois afirmaram que a declaração se tratava de figura de linguagem. "É como se fosse, um exemplo", disse Camila.

Nos seus canais ela afirma que há ministros do Supremo que "precisam sair de lá". À reportagem, porém, a influenciadora disse que a motivação para a convocação é o "respeito pleno à Constituição e à liberdade de expressão". "Não há o que temer. Tanto da nossa parte, como da parte dos ministros", declarou. Bernardi não quis se manifestar.

<b>DEMÔNIOS</b>

Blogueiro punido pelo TSE com a perda de receita por vídeos de notícias falsas, em 2021, Emerson Teixeira de Andrade se apresenta nas redes como "Professor Opressor". Os vídeos dele fazem paródias a Moraes. No mesmo dia em que Bolsonaro chamou o magistrado de vagabundo, ele postou uma convocação no Twitter: "Vagabundos vão comendo pela beirada e acabando com a sua liberdade aos poucos. Você vai permitir isso ou vai para as ruas dia 7 de setembro?", publicou, seguido de imagem com a mensagem: "Chegou a hora de expulsarmos estes demônios". Ao <b>Estadão/Broadcast</b>, ele afirmou que sua motivação é protestar contra a "forma como os ministros do STF vêm desrespeitando a Constituição" de forma pacífica.

O influenciador Alberto Junio da Silva, do canal O Giro de Notícias, fez convocações e afirmou que Moraes "não tem mais autoridade nenhuma". À reportagem, porém, disse que o ato será "um grito pela liberdade", mas pacífico.

<b>INVASÃO</b>

O <b>Estadão/Broadcast</b> identificou 14 manifestantes que participaram da invasão à Câmara para pedir intervenção militar. Seis anos depois, líderes do grupo estão firmes na defesa de Bolsonaro. Era 16 de novembro de 2016. O plenário estava praticamente vazio. O deputado Capitão Augusto (PL-SP) direcionava uma mensagem a eleitores de Ourinhos, no interior de São Paulo, quando foi interrompido pelo grupo que atropelou a segurança e entrou aos gritos no espaço restrito aos parlamentares e assessores. Um servidor que cruzou o caminho dos invasores foi derrubado com uma rasteira. A invasão forçou o fim da sessão.

Participantes da invasão relataram à reportagem que o ato foi premeditado por cinco meses e poderia ter sido ainda mais violento. Os invasores saíram de um grupo com cerca de 490 pessoas acampadas em Brasília dias antes. Só uma parte insistiu na ilegalidade. Entre eles, militares reformados e ativistas da extrema direita. Havia os designados "para a conversa e para a porrada".

Seis anos depois, Davi Benedito, que se apresenta como líder do movimento "Intervencionistas no Congresso", afirmou que a "missão" foi preparada por meses com militantes de vários Estados e um financiador oculto. Ele concorre a uma vaga na Assembleia de São Paulo pelo Patriota e estará na Avenida Paulista, na quarta. Até hoje, está proibido de entrar na Câmara.

"Me perguntaram se eu tinha coragem de tomar o Congresso. Cheguei no dia 12 de novembro. Fiquei cinco meses montando essa caravana. Foram várias missões. Viram que eu era um cara competente e me pediram para fazer", disse.

Ele relatou que deixou de ser intervencionista e disse acreditar no processo eleitoral. Uma das páginas de internet que usa para fazer campanha, porém, se chama "Intervencionistas no Congresso". Benedito garante que se manifestará pacificamente.

Também invasor da Câmara, o cabo Corrêa Mourão publicou um vídeo com a frase "Pela última vez", no qual disse que estaria em Copacabana no 7 de Setembro. "Você não pode perder, estaremos juntos. Eu e toda a equipe do Para cima deles, Brasil ", declarou ele, repetindo uma frase de Bolsonaro.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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