Estadão

Ambiente externo requer maior cautela por parte de países emergentes, diz ata

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou o alerta sobre o cenário global adverso e volátil na ata de seu encontro de dezembro. No documento, o BC destacou que a desinflação no mundo deve ser mais lenta, que os juros devem ficar contracionistas por mais tempo, provocando desaceleração maior da economia, e que questões fiscais e de liquidez podem atingir mais ativos de emergentes. Nesse contexto, o BC recomendou que é preciso ter cautela na condução das políticas econômicas também por parte de emergentes.

Na semana passada, o Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela terceira vez seguida. Na avaliação sobre a inflação global, o BC considerou que o relaxamento das pressões sobre as cadeias de produção e a redução nos preços de commodities indicam que o movimento de desinflação deve seguir no curto prazo, especialmente em bens industriais, energia e alimentos. Mas ponderou que esse processo não deve ser linear e mais lento do que em outros episódios recentes devido à disseminação da alta de preços para o setor de serviços, que é mais inercial, em meio ao mercado de trabalho apertado em diversos países.

"Dessa forma, o Comitê segue avaliando que o compromisso e a determinação dos bancos centrais em reduzir as pressões inflacionárias e ancorar as expectativas consolidam um cenário global de aperto de condições financeiras mais prolongado", disse o Copom na ata, citando que as taxas de juros devem ficar contracionistas por "período suficientemente longo", com risco maior de forte desaceleração global.

"O processo de normalização da política monetária nos países avançados prossegue na direção de taxas restritivas de forma sincronizada entre países, apertando as condições financeiras, impactando as expectativas de crescimento econômico e elevando o risco de movimentos abruptos de reprecificação nos mercados."

Em relação ao crescimento global, reforçou que a perspectiva de crescimento abaixo do potencial no próximo ano. "O aperto das condições financeiras nas principais economias, as dificuldades no fornecimento de energia para a Europa e o cenário desafiador para o crescimento na China, em parte devido à política de combate à covid-19, reforçam uma perspectiva de desaceleração do crescimento global nos próximos trimestres."

O BC também destacou que debateu no Copom dois fenômenos internacionais recentes: a sensibilidade dos mercados a questões fiscais, inclusive em países avançados, e a redução da liquidez em mercados de títulos soberanos. No primeiro caso, cita o aumento de juros globais em meio ao endividamento dos países em patamar historicamente elevado.

No segundo, avaliou que pode ser devido à maior incerteza na dinâmica de juros, à reversão das políticas de compras de ativos de longo prazo e a mudanças regulatórias. "Tais temas requerem acompanhamento e podem impactar também os ativos de países emergentes de forma mais pronunciada", disse.

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