Economia

Ambiente não permite flexibilização das condições monetárias, diz Tombini

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta terça-feira, 22, durante participação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que o balanço de riscos para inflação permanece desafiador. “Mecanismos de indexação e incertezas quanto ao processo de recuperação de resultado fiscal não nos permite trabalhar com flexibilização das condições monetárias”, afirmou.

Tombini ponderou que o mês de fevereiro representou o início do declínio da inflação em 12 meses. Segundo ele, nos próximos meses, outros fatores levarão a uma tendência de declínio.

O presidente do BC destacou a convergência entre a variação dos preços administrados e dos preços livres. “A razão entre preços administrados e livres está mais alinhada”, disse. Segundo ele, o hiato do produto deve reduzir pressão inflacionária em 2016. Ressaltou ainda que há uma intensificação da “distensão” mercado de trabalho.

De acordo com o chefe da autoridade monetária, a experiência histórica mostra que a transmissão da política monetária para o preços ocorre com defasagens. Segundo ele, outro efeito será o menor impacto do câmbio sobre os preços domésticos.

“Os ajustem vêm se materializando e fatores de dinamismo começam a ganhar tração. O processo de convergência da inflação para meta reduzira incertezas, melhorando o ambiente macroeconômico”, disse. Ele voltou a dizer que o BC trabalha para fazer convergir a inflação para o centro da meta em 2017.

Tombini ressaltou que BC trabalhará na condução da política monetária e na solidez do sistema financeiro nacional. “Os ajustes ainda não completaram seu ciclo. Há muito o que fazer para o resgate da consolidação da economia brasileira. A principal contribuição do BC é continuar trabalhando para segurar o poder de compra da moeda e a solidez do mercado financeiro.”

Importância do ajuste fiscal

O presidente do Banco Central classificou o ajuste fiscal como “crucial”. Segundo ele, não há como sustentar conquistas econômicas e sociais se não houver confiança da sociedade no ajuste fiscal, sobretudo no médio e longo prazo. “Devemos ter clareza sobre a importância do ajuste fiscal para estabelecer bases do crescimento sustentável”, disse a parlamentares.

Além do ajuste fiscal, Tombini afirmou que o País passa também por ajuste monetário e externo, esse último tem se realizado com rapidez e de “forma intensa”, beneficiando setores. Para ele, as reservas internacionais, os programas de swaps cambiais e a mudança no balanço de pagamentos são importantes para a transição entre o momento atual e o retorno do crescimento sustentável. “É importante nos perseverarmos na busca por soluções de natureza estrutural”, argumentou o presidente.

Tombini ainda observou que em 2015 a inflação foi “intensamente” afetada pelo fortalecimento do dólar e pelo realinhamento dos preços relativos. Esse processo de mudança, segundo ele, se mostrou mais prolongado do que o previsto inicialmente, o que repercutiu sobre o horizonte de convergência da inflação para o centro da meta. Ele garantiu, no entanto, que o BC vem atuando para conter a propagação desses preços.

O presidente do BC ainda lembrou que há uma defasagem entre a política monetária e a materialização dela na economia real. “Os resultados da atuação do BC ocorrem gradativamente enquanto os efeitos desse ajuste (de preços relativos) ocorrem de forma rápida”, explicou. Para Tombini, evitar a propagação dos aumentos dos preços relativos para os demais preços da economia é uma tarefa da maior relevância.

Questionamento sobre reservas

Senadores da base governista e da oposição fizeram perguntas sobre o uso das reservas internacionais para outros fins, que não o de colchão de liquidez, e também sobre o nível dos juros para Tombini. O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) foi o primeiro a fazer perguntas.

Segundo ele, Tombini foi protagonista das mudanças econômicas em curso, já que está na diretoria do BC desde 2005, assumindo a presidência da instituição junto com a posse da presidente Dilma Rousseff. “O BC vem descumprindo sistematicamente a meta de inflação”, afirmou ele, acrescentando que a instituição não fala a verdade e “tangencia” com os dados da vida real. “Com isso, perde um dos ativos mais importantes, que é a credibilidade do Banco Central”, comentou.

O senador tucano avaliou que, dada a situação econômica do País, era para o BC estar cortando juros diante do “aumento cavalar” do desemprego. “Isso não ajudaria o País a sair dessa dramática crise que estamos envolvidos?”, questionou Ferraço. O parlamentar também perguntou sobre uso das reservas internacionais para outros fins – como pedido pelo PT – com o objetivo de viabilizar a retomada da economia. “Isso seria botar a mão na última coluna de solidez na economia do nosso país”, avaliou.

A senadora pelo PcdoB pelo Amazonas, Vanessa Grazziotin, também fez questionamento sobre reservas cambiais e redução da taxa de juros básicos da economia, atualmente em 14,25% ao ano. “Isso é essencial para a retomada do crescimento”, afirmou a parlamentar sobre a Selic. Sobre a dívida brasileira, a senadora questionou sobre se ela ainda é sustentável.

O senador Donizete Nogueira (PT-TO) também teve perguntas sobre o nível dos juros e o uso das reservas internacionais.

Tombini afirmou que é importante ter esse lastro para a economia. “Reservas são um seguro para permitir economia transitar em cenários diversos da economia global”, disse.

Segundo Tombini, a primeira linha de defesa da economia é o câmbio. Para ele, o nível de reservas no patamar de 15% do PIB é moderado, nem muito alto nem muito baixo.

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