As letras creditadas a Adoniran Barbosa ficaram engavetadas por anos em pastas sob a guarda de Juvenal Fernandes, um antigo amigo do sambista, ex-sócio da editora Fermata e da editora e gravadora Arlequim, onde elas permaneceram depois da morte de Fernandes até serem descobertas pelos produtores do novo projeto de agora.
Juvenal recebeu a reportagem do extinto Jornal da Tarde, em 2004. Falou sobre sua amizade com Adoniran e mostrou uma pasta com algo em torno de 100 músicas deixadas pelo sambista.
Mais do que as 14 escolhidas para o projeto, era refletido ali um Adoniran ainda mais rebuscado. Ele escrevia como um religioso de fé cega, um pensador lírico que citava o poeta inglês Lord Byron, o bandeirante João Ramalho e os padres Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. Uma das letras dizia: “Os jesuítas e as missões / os aventureiros bandeirantes / entradas, fronteiras e os sertões / histórias de sagas triunfantes”.
Fernandes contou como era sua relação com Adoniran: “Ele chegava ao meu escritório na editora com suas anotações feitas em qualquer papel que achava pela frente e dizia: Guarda aí com você Juvenal, um dia a gente mexe nisso.” Fernandes procurou, em 1989, Maria Helena Rubinato, filha e herdeira única de Adoniran, que assinou um contrato permitindo o lançamento que hoje passa a ser uma realidade.