Estadão

Amontoados, civis fogem em trens lotados de Kiev para fronteira polonesa

A chegada de tropas russas a Kiev, na madrugada de ontem, levou milhares de moradores da cidade a fugir para o oeste da Ucrânia. A capital foi alvo em menos de 24 horas de dois ataques aéreos das forças de Vladimir Putin. Plataformas de trens lotadas, comboios apertados e o medo de transitar nas ruas em meio a militares e bombas tornaram-se parte da paisagem.

Em busca de um local seguro, os ucranianos se amontoaram nas plataformas da estação à espera do embarque. Um comboio que partiu no início da noite de ontem (à tarde em Brasília) levava famílias inteiras, jovens, crianças e idosos. A reportagem do <b>Estadão</b> acompanhou a fuga de Kiev até a Polônia.

Os ucranianos se espremiam até mesmo nos corredores, viajando em pé no trajeto que os levaria até a fronteira polonesa a 900 quilômetros de distância. Até Varsóvia, capital da Polônia, seriam 20 horas de viagem.

Em meio ao desespero para deixar às pressas a Ucrânia e num embarque feito de forma improvisada, quem tinha alguma mala teve de jogá-la para dentro do vagão pela janela. Uma mulher avisava: "Garotos, temos de ir. Vocês já têm os documentos. Vamos partir".

<b>Tensão</b>

Moradores de Kiev que arriscam deixar suas casas em busca de um refúgio ou mesmo uma rota de fuga da cidade têm se deparado com militares nas ruas. Com ruas desertas e sob o som de bombas, quem tenta filmar o que está acontecendo é advertido de que não é permitido fazer o registro.

O clima pela manhã na cidade era tenso. Jornalistas estrangeiros foram orientados por autoridades locais a trocar hotéis do centro da cidade por locais mais seguros.

A ONU estima que mais de 50 mil ucranianos já fugiram das tropas russas, rumo ao oeste do país, e esse número pode chegar a 5 milhões. Embora Polônia e Moldávia sejam o destino preferido da maioria dos civis, o Alto-Comissariado da ONU para Refugiados alerta que Romênia, Eslováquia e os países do Báltico também podem receber um fluxo grande nas próximas semanas.

A maior parte dos ucranianos que chega a Przemysl, na Polônia, é composta de mulheres, crianças e idosos. O presidente Volodmir Zelenski emitiu na quinta-feira um decreto determinando que homens de 18 a 60 anos devem lutar pelo país, na expectativa de aumentar as chances de o Exército ucraniano se defender.

Uma das mulheres no comboio chorou ao contar na chegada à Polônia como o marido foi arrancado à força do trem em que estavam no posto de fronteira. "Mesmo se o homem estivesse viajando com seu filho, ele não poderia cruzar a fronteira, mesmo com uma criança", disse a mulher, que só informou o seu primeiro nome, Daria.

<b>Voluntários</b>

Nas passagens de fronteira na Polônia, os ucranianos chegaram a pé, de carro e trem – alguns com seus animais de estimação – e foram recebidos por autoridades polonesas e voluntários oferecendo comida e bebidas quentes.

Alguns procuraram se juntar a parentes que já se estabeleceram na Polônia e em outros países da União Europeia, cujas economias fortes há muitos anos atraem trabalhadores ucranianos.

A primeira parada foi na estação de trem em Przemysl, uma cidade no sudeste da Polônia que é um ponto de trânsito para muitos. Os ucranianos dormiam em colchonetes e cadeiras enquanto aguardavam para dar sequência a seus próximos passos, aliviados por escapar dos bombardeios em Kiev e em outros lugares. (*COM AP)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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