Entra eleição, passa eleição e Guarulhos segue com baixa representatividade nas casas de leis estadual e federal. Já virou lugar comum dizer que isso ocorre porque o guarulhense não prestigia os candidatos da cidade ao despejar milhares e mais milhares de votos em nomes de fora, em tese, sem qualquer compromisso com o município. Analisando os números deste 2014, ainda quentes pela apuração que mal acabou, é possível perceber que não é bem assim.
Guarulhos acaba de eleger quatro deputados estaduais e dois federais. Mas metade deles, três, não são tão Guarulhos assim. Ou melhor, dois praticamente não são nada Guarulhos. Apenas mantém vínculos familiares com a cidade. E não se elegeriam se dependessem dos votos obtidos por aqui. Os deputados federais Jorge Tadeu e Eli Correa Filho, ambos do DEM, foram reeleitos com baixíssimas votações na cidade. O primeiro, que tem histórico político muito próximo ao município, obteve 178.771 votos, sendo apenas 9.431 na cidade. O segundo, que é casado com uma guarulhense, se reelegeu com 134.138 votos, mas com 15.503, pouco mais de 10% de Guarulhos.
O estadual Jorge Wilson (PRB), 9º melhor colocado para estadual em SP, bateu nos 180.419 votos, porém apenas um quarto disso (45 mil) conquistado em solo guarulhense. Não fossem os votos de fora, não se elegeria. Alencar Santana, reeleito estadual pelo PT, com a segunda melhor votação de seu partido, teve um desempenho em Guarulhos que representou a metade dos votos que havia obtido em 2010. Teve 62.872 dos 103.234 votos totais em Guarulhos. Se fossem contabilizados apenas os votos obtidos em sua cidade base, Alencar seria o único eleito em Guarulhos, mas como um dos últimos de sua legenda a passar adiante.
Seu colega de chapa, Auriel – que obteve 62.009 votos sendo 46.283 obtidos dentro do município – não se elegeria não fossem os eleitores que conquistou fora daqui. O mesmo ocorreria com Gileno (PSL), que chega a Assembleia com 34.953 votos no total. Se tivesse somente os 30.531 depositados em urnas de Guarulhos, também ficaria de fora.
Assim, culpar o eleitor que preferiu votar em Celso Russomanno (PRB) para federal – foram mais de 80 mil votos conquistados por ele em Guarulhos – é simples demais. Ainda mais que o guarulhense é bombardeado e influenciado o tempo todo pela grande mídia paulistana. E que, nas eleições de 2012, assistiu durante dois meses a propaganda eleitoral gratuita da Capital, onde o hoje deputado federal mais votado do país aparecia dia e noite com destaque na disputa por aquela prefeitura.
Também há que se respeitar o eleitor que – desinformado ou desesperançado – se deixa levar pelo bom humor do palhaço Tiririca (PR), que tomou conta da propaganda de seu partido na TV e no rádio. Fora que há pessoas que preferem votar em pessoas de fora em quem confiam mais, pelos mais diversos motivos. Sem dizer que muitos dos nomes da cidade que se apresentaram nas urnas não se mostraram dignos de receber os votos ou – na pior das hipóteses – não reuniram argumentos suficientes para convencer os eleitores.
Os números deixam claro: não fossem os votos obtidos fora da cidade, Guarulhos estaria hoje com apenas um deputado estadual eleito. E mais nada.