Em regra, quando a taxa básica de juros do País sobe, os investimentos em renda fixa ganham mais atratividade. Mas, apesar de o Banco Central (BC) ter aumentado a Selic pela terceira vez consecutiva, os analistas afirmam que o ambiente ainda não é favorável para o investidor de renda fixa, já que a inflação está acelerada. Por isso, eles dizem que os melhores investimentos continuam sendo em renda variável, como ações na Bolsa, ancorados na expectativa de um forte aquecimento da economia no segundo semestre com a aceleração da vacinação.
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou ontem a Selic em 0,75 ponto porcentual. Com isso, a taxa básica de juros passou a ser de 4,25% ao ano – o maior patamar desde março de 2020. Já a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 0,83% em maio e acumula alta de 8,06% nos últimos 12 meses e de 3,22% nos cinco primeiros meses deste ano, segundo o IBGE.
"Por mais que a gente esteja entrando num ciclo de alta de juros, é o mesmo patamar do início de 2020, ainda baixo se olharmos para nossa história. Abre-se espaço para que o investidor seja ativo em renda variável", disse o analista da Guide Investimento Henrique Esteter.
Entre as apostas dos analistas de corretoras de investimento, estão bancos e exportadoras de commodities, que vêm tendo bom desempenho desde o início de 2021 e tendem a permanecer assim até o fim do ano. Agora, os olhos também estão voltados para setores fortemente afetados pela pandemia, como turismo e varejo de vestuário, porque há espaço para forte recuperação no segundo semestre. Os setores elétrico e de construção civil estão sendo tratados com mais cautela.
"Quando os juros começam a subir, empresas ligadas ao consumo normalmente têm performance mais fraca, porque os consumidores tendem a poupar mais. Só que essas empresas ficaram com o preço em Bolsa tão defasado, por causa da pandemia, que o mercado está olhando com bons olhos no momento", disse Esteter.
Para a analista da MyCap Julia Monteiro, além dos setores de consumo e varejo, que segundo ela vão se beneficiar da extensão do auxílio emergencial e da maior mobilidade para lojas físicas, tudo o que for relacionado a viagens tem potencial positivo. Por isso, ela aposta não só em companhias aéreas como em empresas de aluguel de carro e concessionárias de rodovias.
Por mais que não haja consenso se a crise hídrica vai atingir os investidores de companhias expostas ao setor elétrico, essa pauta está no radar. Esteter recomenda ficar de olho principalmente nas companhias geradoras de energia com maior exposição ao Sudeste – região onde o nível dos reservatórios é crítica.
A renda fixa, porém, não deixa de ter sua importância para a diversificação do portfólio do investidor. Um ponto forte desse tipo de investimento é a liquidez, necessária em momentos de imprevistos, em que o investidor precisa resgatar o dinheiro.
"Não existe uma regra que diga que é sempre bom ter determinado tipo de investimento na carteira, por exemplo. A questão é que há ativos que estão bem em um determinado momento, e outros que não", disse Fábio Gallo, professor de Finanças da FGV-SP.
A recomendação de Rodrigo Beresca, analista da Ativa Investimentos, para os investidores mais conservadores é apostar nos títulos pós-fixados de longo prazo. Esses títulos são corrigidos por algum indexador, que pode ser a Selic, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário, a taxa de juros cobrada nos empréstimos entre bancos) ou o IPCA, o índice oficial de inflação do País, que está em alta.
"Títulos pós-fixados no curto prazo ainda apanham. O mais interessante é o investidor manter por mais tempo os atrelados ao CDI ou fazer aportes em títulos que tenham correção pelo IPCA", explicou. Veja o que o analista diz sobre diferentes tipos de investimento:
<b>Poupança</b>
É a menos atrativa da lista de ativos disponíveis no mercado. O ponto positivo é que não há incidência de Imposto de Renda (IR) na hora do resgate. Mas, mesmo assim, ela acaba não sendo atrativa por causa da baixa rentabilidade. Não tem garantido nem a devolução do que o investidor perde com a com a inflação.
<b>CDB</b>
No curto prazo, o CDB (Certificado de Depósito Bancário) pós-fixado atrelado ao CDI não é uma opção interessante, mas no médio e longo prazos (acima de 18 meses), sim. Os atrelados ao IPCA também são interessantes, porque vão corrigir o retorno pela inflação e ainda dar um cupom de juros, gerando um ganho real nessa aplicação.
<b>LCI e LCA</b>
A vantagem desses instrumentos (Letras de Crédito Imobiliário e Letras de Crédito do Agronegócio) é a isenção do IR, portanto, há um retorno maior do que aplicando em outro ativo que não tenha essa opção, como é o caso do CDB. A lógica para as letras é a mesma: mais atrativo se for no longo prazo porque, com a previsão de novos aumentos para a Selic nos próximos meses, o investidor terá mais chance de embolsar um ganho real (acima da inflação).
<b>Fundos DI</b>
Têm retorno baseado no CDI, que segue a Selic. Em momentos de alta dos juros, tendem a ser uma opção interessante. Mas é cobrada uma taxa de administração, o que diminui o ganho final.
<b>Tesouro Direto</b>
Os títulos pós-fixados como a LFT (Tesouro Selic) ou as NTN-B (atreladas à inflação) são os mais interessantes no momento. Os prefixados não são interessantes, por ora.
Fundos imobiliários. Os juros baixos tendem a ser desfavoráveis ao mercado imobiliário e seus respectivos fundos, que podem ser medidos pelo Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários (Ifix). Mas o setor anda aquecido e pode ser uma boa alternativa.
<b>Fundos multimercado</b>
São considerados uma porta de entrada para investimentos de maior risco, pois misturam renda fixa com renda variável no mesmo pote e podem se beneficiar tanto de produtos pós-fixados quanto dos atrelados ao IPCA.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>