Inclinados a acreditar que o Banco Central poderia reduzir o ritmo de alta dos juros na próxima quarta-feira, 29, por causa da atividade debilitada, analistas do mercado financeiro voltaram a rever suas projeções às pressas nesta sexta-feira, 24.
O estopim da reviravolta foi um discurso extremamente duro feito pelo diretor de Política Econômica da instituição, Luiz Awazu Pereira da Silva, para quem, é preciso “manter a cautela” neste momento em particular.
“É primordial ser vigilante para se certificar de que a política monetária reflete o balanço de riscos a partir de agora e continua a ser devidamente calibrada para atingir o nosso objetivo”, disse em seminário no Rio de Janeiro. Desde o final do ano passado, o ritmo de alta dos juros é de 0,50 ponto porcentual a cada decisão.
A cinco dias do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o rumo da taxa básica de juros, atualmente, em 13,75% ao ano, o diretor salientou que, apesar de alguns inegáveis resultados positivos, dados recentes mostram que existem novos riscos para a inflação de 2016 que podem afetar os horizontes de longo prazo.
Awazu não deixou claro quais seriam esses riscos, mas o fato novo mais recente e forte da economia dos últimos dias foi a mudança feita pelo Ministério da Fazenda de redução da meta de superávit primário de 2015 de R$ 66,3 bilhões para R$ 8,7 bilhões.
O BC, de acordo com o diretor, avalia que o cenário de que a inflação vai se dirigir para 4,5% no ano que vem tem produzido alguns sinais positivos que mostram que a instituição está no caminho certo.
“Os progressos até agora na luta contra a inflação, no entanto, precisam ser equilibrados contra os riscos mais recentes que ameaçam o nosso objetivo central no horizonte relevante para a política monetária”, alertou.
Como diria seu antecessor no cargo, o então diretor Carlos Hamilton Araújo, “para bom entendedor, pingo é I”. A partir daí, vários economistas voltaram-se para suas planilhas.
Na quinta-feira, 23, conforme levantamento realizado pelo AE Projeções, 44 de 71 instituições estimavam que os juros iam subir 0,50 ponto porcentual e 27 viam redução do ritmo para 0,25 ponto. Neste último grupo, ao menos sete já informaram que revisaram sua expectativa para alta de meio ponto: ARX Investimentos, Banco Fibra, Beta Independent, Leme Investimentos, Modal Asset, Schwartsman & Associados e Western Asset.
“O discurso foi de 0,50 ponto, ainda mais porque com a mudança da meta fiscal o BC perdeu a ancoragem (das expectativas)”, disse o sócio-gestor da Leme Investimentos, Paulo Petrassi. Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, aparentemente, Awazu quis sinalizar, com o tom duro, que o mais provável é uma alta de 0,50 ponto. O porta-voz da Western Asset, Adauto Lima, salientou que os riscos aumentaram para a trajetória prévia que o BC vislumbrava.
A ARX Investimentos também elevou sua projeção, após o discurso mais “hawkish (conservador) e surpreendente” de Awazu, disse o economista Henrique Santos. “Esperava um tom duro, mas não tão duro”, afirmou.
O ex-diretor do BC, o economista Alexandre Schwartsman, comentou que a previsão de alta de 0,25 ponto, após a fala de Awazu, fica ultrapassada. “Não serve para mais nada, depois da mensagem que é essa (de sinalização de alta de meio ponto). A mensagem vai mudando”, avaliou.
Mesmo aqueles que oficialmente ainda não alteraram suas apostas admitem que, informalmente, já trabalham com um aumento de 0,50 ponto. Novas mudanças podem ser vistas até quarta-feira.