Estadão

Anastasia traz uma princesa que busca recuperar a identidade

O ator Tiago Abravanel sentiu uma indisfarçável emoção quando pisou no palco do Teatro Renault, na semana passada. Afinal, a última vez tinha sido em 2007, quando participou do musical Miss Saigon. "Foi o início de uma série de trabalhos de que me orgulho muito e que me deram projeção", conta ele que, desde então, viveu Tim Maia (que o consagraria), o enigmático cachorrinho Snoopy e o simpático caranguejo Sebastião (A Pequena Sereia) até voltar agora ao Renault, onde interpretará um dos protagonistas de Anastasia, musical que estreia no dia 10.

Ele vive o ex-aristocrata Vlad, homem refinado que perdeu seu status social e financeiro no início do século passado, quando a Revolução Russa depôs o czar Nicolau Romanov II, assassinado com a família pelos bolcheviques. Entre os mortos, a princesa Anastasia, cuja execução em 1918 só foi realmente confirmada em 2008, pois, durante décadas, o governo russo escondeu as circunstâncias da morte e a localização dos corpos, o que acabou incentivando fantasias sobre Anastasia ter sobrevivido às execuções.

<b>História fictícia</b>

"O musical conta uma história fictícia, mesmo que amparado em muitos dados históricos", observa a holandesa Carline Brouwer, encenadora responsável pela montagem brasileira. "Assim, qualquer detalhe que aconteça além da captura dos Romanov é fruto da imaginação." De fato, o espetáculo, que estreou na Broadway em 2017, é inspirado no filme realizado 20 anos antes e que traça uma romântica história em torno do mistério da princesa Anastasia.

Tanto o longa como o musical contam a história de Vlad e Dmitry – rapaz sempre viveu nas ruas-, que buscam encontrar uma jovem que se parece com a princesa desaparecida, pois a avó dela, a grã-duquesa imperial que vive em Paris, ofereceu uma recompensa para quem encontrasse sua neta.

<b>Paris</b>

Quando estão quase desistindo, eles encontram Anya, uma jovem órfã que não se lembra do seu passado, mas tem as características necessárias para se passar por Anastasia. Assim, a dupla começa a ensaiá-la e todos rumam para Paris, mas, aos poucos, Dimitri passa a acreditar que Anya é realmente a princesa desaparecida.

"Anastasia é sobre uma jovem em busca de sua identidade", comenta a diretora Carline, que se encantou com a atuação nos testes de elenco da atriz Giovanna Rangel, de 25 anos. "Ela nos impressionou pela postura em cena e pela voz", completa a produtora-geral Almali Zraik, da empresa Caradiboi, responsável pelo espetáculo, em coprodução com a T4F.

No papel de Anya, a atriz enfrenta um desafio único. "É minha estreia como protagonista em musicais e vivo uma garota que busca seu lugar no mundo e representa o ressurgimento e a resiliência das mulheres, o que fica ainda mais fascinante com a lenda de que Anastasia poderia ou não ter sobrevivido", comenta Giovanna.

"As notas finais das canções são as mais difíceis", atesta Rodrigo Garcia, que vive Dmitry, o jovem desgarrado. "Quase não saio de cena e, além dos solos, ajudo ainda o coro, especialmente nas cenas em que eles também dançam." Ele observa como o trio de desgarrados se encaixa bem na história. "Enquanto Anya perdeu a memória, Dmitry é um rapaz que não tem história, ao contrário de Vlad, que perdeu a sua."

"Vlad tem uma camada de malícia e charme que me atrai muito", admite Abravanel. "É o personagem que traz alívio em meio à tensão da história." Sua preparação envolveu desde o cuidado com o vocabulário ("Ele foi um aristocrata") até o uso vocal correto. "É um homem mais velho que eu e precisa de uma voz mais madura", diz o ator, que usa muita caracterização, como peruca e barba. "Quando me vejo no espelho, não me reconheço, o que me faz me aprofundar naquele homem que alcança seus desejos com humor, sensualidade e sagacidade."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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