Cientistas tentam determinar que papel as variantes do novo coronavírus podem estar desempenhando no colapso que atinge o sistema de saúde da Índia. Em razão da falta de leitos e de oxigênio, os hospitais estão sem condições de aceitar novos pacientes. O caos se estende a cemitérios e crematórios, todos lotados.
Médicos, cientistas e imprensa têm apontado possíveis evidências – ainda sem confirmação – de que uma variante local chamada B.1.617 é a responsável por causar a alta de casos e mortes. Mesmo com dados ainda limitados, outros pesquisadores sugerem que outra cepa, mais conhecida como B.1.1.7, que surgiu no Reino Unido, no ano passado, pode ser a causadora do colapso sanitário na Índia.
Ontem, as autoridades indianas relataram quase 3,3 mil mortes em 24 horas. O número eleva o total oficial de óbitos para 201,2 mil, embora especialistas acreditem que a quantidade real seja muito maior – no mínimo de 400 mil, segundo alguns estudiosos. As novas infecções diárias também aumentaram para 357,7 mil, outro recorde.
A presença de variantes altamente contagiosas pode complicar ainda mais o controle do desastre sanitário. Médicos apontam para evidências pontuais de que algumas pessoas que foram vacinadas com duas doses estão ficando doentes. "A onda atual de covid tem um comportamento clínico diferente", disse Sujay Shad, cirurgião cardíaco do Hospital Sir Ganga Ram, onde muitos pacientes estão sem oxigênio. "Está afetando jovens, está afetando famílias. É uma coisa totalmente nova. Bebês de dois meses estão sendo infectados."
Os cientistas dizem que diferentes variantes parecem dominar regiões específicas da Índia. A mutação B.1.617, por exemplo, foi detectada em um grande número de amostras do Estado central de Maharashtra, enquanto a cepa B.1.1.7 cresce muito rápido na capital Nova Délhi. "Existem variantes que são mais transmissíveis do que todas com as quais lidamos há um ano", disse o diretor do Instituto Wellcome Sanger, Jeffrey Barrett, que coordena uma ampla pesquisa sobre o genoma da covid-19 no Reino Unido. "As coisas podem mudar de uma hora para outra. Então, se um país não reagir rápido o suficiente, as coisas podem ficar muito feias."
A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que as novas variantes e um sistema de saúde pouco estruturado sejam as causas para a nova onda de casos que atinge a Índia. "A B.1.617 tem uma taxa de crescimento mais alta do que outras variantes que circulam na Índia, sugerindo que é mais contagiosa", informou a OMS. Até agora, os fabricantes de vacinas dizem que seus imunizantes são eficazes contra as novas cepas.
<b>Outros fatores</b>
Além das variantes, os cientistas acreditam que outros fatores podem estar impulsionando a mortal segunda onda da Índia. A lentidão na vacinação é o principal deles. O país atingiu um patamar pequeno de pessoas imunizadas: menos de 2% dos indianos já receberam a primeira e a segunda dose da vacina.
Os especialistas também culpam o relaxamento da população em relação aos cuidados de prevenção após a primeira onda da doença e os erros na resposta à pandemia do primeiro-ministro, Narendra Modi. Temendo os efeitos ainda mais profundos da economia, ele optou por uma reabertura de empresas e comércio muito antes de a pandemia estar sob controle.
Os cientistas citam ainda que a retomada das aulas presenciais, nos últimos meses, sem as devidas precauções, também poderia estar por trás do aumento de infecções entre os mais jovens. Para Thekkekara Jacob John, virologista do Estado de Tamil Nadu, o sistema de saúde indiano não estava preparado para o impacto de variantes com uma segunda onda de infecções tão violenta, mesmo quando essas mutações começaram a se espalhar globalmente. "Não estávamos preocupados com variantes. Em outras palavras, perdemos o barco."
Vários países suspenderam ou limitaram seus voos com a Índia, incluindo Austrália, Canadá, Emirados Árabes, Reino Unido e Nova Zelândia. A Bélgica fechou suas fronteiras para viajantes vindos da Índia e a Espanha estendeu a quarentena obrigatória para passageiros indianos. A presença do vírus é uma preocupação na Europa, principalmente quando as restrições de locomoção começam a ser reduzidas, como na Holanda, onde o toque de recolher foi suspenso ontem. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>