Após receber 82.743 votos (1,55% dos votos válidos) e ficar em 8° lugar na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2020, quando disputou o cargo pelo PSD, o empresário, ex-ministro das Comunicações de FHC, ex-embaixador na Itália, ex-vereador da capital paulista e ex-tucano de alta plumagem, Andrea Matarazzo (PSD), 65, está volta ao cenário político, mas dessa vez na Itália.
A partir do próximo dia 21 de agosto, os cidadãos italianos que vivem no Brasil votarão pelo correio para escolher quem será o representante da América do Sul no Senado italiano, o mais antigo do mundo e que desde 2006 conta com representantes da comunidade espalhados pelo planeta. "Tem quase uma Itália inteira de descendentes fora da Itália", disse Matarazzo ao Estadão.
Embaixador do Brasil em Roma entre 2001 e 2002, Andrea disse que o novo projeto é uma consequência natural da história da sua família na comunidade italiana. "Meu bisavô, Andrea Matarazzo, foi senador vitalício com título dado pelo rei Vittorio Emanuele. A luta pelo voto do exterior foi feita pelos meus tios na década de 40 ", conta.
A eleição italiana foi antecipada depois que o premiê, Mario Draghi, renunciou ao cargo, após ter perdido o respaldo de parte dos membros de sua coalizão. O presidente italiano, Sergio Mattarella, dissolveu então o Parlamento e antecipou as eleições do segundo trimestre do próximo ano para o próximo dia 25 de setembro.
Para disputar a eleição, Matarazzo escolheu um partido com seu perfil. "Busquei uma coligação com estrutura e mais similaridade com o que eu sempre fui aqui, PSDB, PSD. É a coligação Partido Democrata e estou no partido mais antigo, que é o PSI (Partido Socialista Italiano)", disse.
Andrea é da família de imigrantes italianos que, na capital, fez fortuna ao construir uma série de fábricas e capitanear a industrialização do País no século 20. Francesco Matarazzo, tio-avó de Andrea (cujo nome completo é Angelo Andrea Matarazzo), foi um dos homens mais ricos do mundo.
O candidato é primo (de segundo grau) do vereador e ex-senador Eduardo Suplicy (PT), de quem nunca foi aliado político. Se vencer, Andrea deve ter como companheiro de parlamento Silvio Berlusconi, que voltou à cena dez anos depois de ter sido expulso do Parlamento italiano por evasão fiscal.
"Berlusconi é muito diferente do que se mostrou. Eu era embaixador quando ele era primeiro-ministro. Ele é extremamente inteligente, fez reformas. Hoje está muito mais maduro. A Meloni é a direita dele. Berlusconi está no crepúsculo, com 85 anos", disse Matarazzo.
Com o lema "Deus, Pátria e Família", Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos da Itália, de extrema direita, é a favorita na disputa. "Dizem que ela é a Marine Le Pen da Itália, mas acho ela mais inteligente. A ascensão da extrema direita é reflexo do anti europeísmo", avaliou Matarazzo.
Atualmente os representantes da América do Sul no Senado italiano são Fabio Porta e Ricardo Merlo e os quatro deputados são Fausto Longo, Borghese, Lorenzato e Sangregorio, todos argentinos.
Ao todo são 12 deputados e 6 senadores que representam o exterior na atual legislatura. Como neste ano reduziu pela metade, a partir desta próxima eleição serão 8 deputados e 4 senadores (1 senador e 2 deputados da América do Sul).
Questionado sobre como será sua relação no Parlamento caso vença, Andrea não titubeia. "Não vou entrar em radicalismo nem de um lado nem de outro."
Sobre a política nacional, Matarazzo conta que assinou o manifesto em defesa da democracia da Faculdade de Direito da USP e avalia que a comunidade italiana está dividida sobre Jair Bolsonaro. Seu partido no Brasil, o PSD, apoia o ex-ministro bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas o ex-ministro não demonstra muito entusiasmo. "Não sei ainda se vou votar no Tarcísio"
Sobre o futuro no Brasil, Andrea deixa em aberto. "Não desisti da política brasileira. Me sinto à vontade nos dois lugares"
Em sua campanha, Andrea promete incrementar as relações entre a Itália e os italianos que moram na América do Sul, promovendo um "grande programa de intercâmbio", com novas bolsas de estudo para universidades e criação de estágios em empresas italianas e sul-americanas, e criar legislação para que os consulados funcionem com menos burocracia, mais rapidez e eficiência para o cidadão no exterior.