Após enfrentar uma série de reveses em seu principal projeto no Brasil, o sistema de minério de ferro Minas-Rio, a mineradora Anglo American começou a colher os resultados do empreendimento e se prepara para investir até US$ 330 milhões no País este ano, orçamento 60% superior ao de 2020. Três quartos da cifra serão destinados à segurança, manutenção e aumento de produtividade do sistema, localizado em Conceição do Mato Dentro (MG).
Marcado por uma série de atrasos e por baixas contábeis, o Minas-Rio teve o ano passado seu melhor desempenho financeiro desde o início da operação e prevê alta de 4% na produção este ano, para 25 milhões de toneladas.
Impulsionado por uma combinação de aumento do preço do minério de ferro, maiores volumes de produção, desvalorização do real e custos menores, o sistema teve um aumento de 60% na geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Esse índice mostra o quanto uma companhia gera de recursos apenas em suas atividades operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos. O montante representa cerca de 20% do Ebitda global da Anglo, que destacou no balanço a importância da operação brasileira na redução dos impactos da pandemia em seus negócios.
"Foi o melhor resultado da história do projeto, que começou a produzir em 2014", disse ao <b>Estadão/Broadcast</b> o presidente da Anglo American no Brasil, Wilfred Bruijn. Adquirido da MMX, de Eike Batista, em 2008, o Minas-Rio custou US$ 14 bilhões à Anglo American – equivalente ao maior investimento da história da Vale, o S11D -, entre o total pago ao empresário brasileiro e a implantação.
O executivo admite que ainda há um caminho a trilhar até atingir o chamado break even (equilíbrio entre despesas e receitas) do projeto, o que dependerá da curva de preços. Ao analisar o cenário para o minério em 2021, Bruijn vê uma demanda ainda forte e poucos novos projetos entrando no mercado. Isso deve sustentar preços robustos, ao menos no primeiro semestre. Ele calcula uma faixa média de US$ 140 a US$ 170 por tonelada no ano. O minério da Anglo recebe ainda um prêmio pelo alto teor de ferro (67%).
<b>Perspectivas</b>
O especialista José Carlos Martins, da Neelix Consulting, destaca a alta da margem do projeto de 50% para 62% em 2020 e avalia que, mantido o nível de preço do primeiro trimestre, 2021 pode ser ainda melhor. "Considerando que o Minas-Rio tem um produto de alta qualidade e alinhado com as tendências de menor emissão de carbono na siderurgia mundial, as perspectivas de mercado e de preço são excelentes", diz ele, ex-diretor executivo de Ferrosos da Vale.
O desempenho positivo em 2020 é um sinal importante para o Minas-Rio, que enfrenta obstáculos desde o início. A multinacional teve dificuldades no licenciamento ambiental e na negociação com donos de terras para acesso ao mineroduto de 529 quilômetros, o que levou a atrasos no cronograma e baixas contábeis. Em 2018, vazamentos no duto paralisaram as operações. A empresa enfrenta ainda questões com comunidades próximas à barragem e afirma estar investindo R$ 650 milhões para realocar 350 famílias.
Em meio aos percalços, a Anglo busca atingir a capacidade plena de produção de 26,5 milhões de toneladas anuais de minério de ferro no Minas-Rio. A marca era inicialmente prevista para 2016, mas o atual CEO diz que a Anglo dará prioridade à segurança operacional. Em outubro, foi concluído o alteamento da barragem do sistema, cuja licença de operação é esperada para abril. A indicação de produção do projeto no ano é de 24 milhões a 26 milhões de toneladas, mais para o centro da faixa, calcula Bruijn. No futuro, a Anglo planeja elevar sua capacidade nominal a 30 milhões de toneladas.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>