Mundo das Palavras

Angustiantes incertezas

Quando houver mais distanciamento temporal da atual fase da História Política do Brasil, o comportamento contraditório e desconcertante do Partido dos Trabalhadores provavelmente aparecerá com maior clareza e visibilidade. De um lado, o PT enfiou mais do que a mão – quase o corpo todo aparentemente – naquele material malcheiroso expelido pelo corpo humano, sem o que – como lembra um personagem de Jean Paul Sartre na peça “O Diabo e o Bom Deus” – nenhuma conquista social é possível no mundo político. A pureza é estéril  num mundo guiado por ambição e egoísmo como o da política, prega aquele personagem.
 
De outro lado, no atual governo deste partido, interessado em conservar suas conquistas sociais, depois de chafurdar no esterco, a Polícia Federal tem ampla liberdade para investigar e tornar pública a própria podridão do próprio PT. Vá se entender isto! Há algum setor neste partido que mantém vivo um anseio de auto-higienização? Terá sido por isto o partido foi punido de um modo como provavelmente nunca se viu em outro país, com a prisão de algumas de suas maiores lideranças, enquanto ainda ocupava o poder? Ou esta autoflagelação pública se impõe pela necessidade de exibir algum resquício de decência apenas para preservar sua antiga marca de partido diferente? Na qual, é claro, hoje, poucos acreditam. 
 
O certo é que a disposição para lidar com excrementos humanos simultânea ao escancaramento público dela, como era inevitável, fortaleceu os adversários de diversos matizes deste partido. Desde aqueles que prometem moralizar a política – com a carga de descrença, ceticismo e desconfiança hoje despertada por este tipo de promessa – até os desmiolados, felizmente poucos, que pedem novo esmagamento da frágil e limitada democracia no país pelas botas militares. Estes esquecem que os generais, quando se apropriaram do Brasil com o Golpe de 1964 só abandonaram a gestão autoritária  do país porque foram impotentes diante da crise econômica – com recessão e inflação -, gerada nos 21 anos de comando deles. Período no qual, aliás, surgiram administradores públicos do padrão de Paulo Maluf. 
 
Com sua atuação em harmonia com aquilo pregado pela personagem sartreana – como é exibido no horário nobre da televisão, graças à ação da Polícia Federal -, o PT está na origem do impasse que atinge a ele próprio, dividindo seus seguidores a ponto de já ter provocado o surgimento do PSOL, com membros que dele se desfiliaram. E está, por isto, também, na origem da instabilidade política que cria incerteza e angústia em quem tem lembrança e informações do alto custo preço pago pelo Brasil na recuperação da sua democracia. 
 

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