A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, de 38 anos, foi eleita pela revista americana <i>Time</i> como uma das 12 mulheres do ano de 2023 "que estão ajudando a criar um futuro melhor para as mulheres". Anielle é irmã de Marielle Franco, a vereadora carioca que foi morta a tiros em março de 2018 em um crime político até hoje não solucionado.
A brasileira foi selecionada ao lado de outros 11 nomes internacionais, como o das atrizes e ativistas Cate Blanchet e Angela Bassett, a campeã de box Ramla Ali, a dissidente iraniana Masih Alinejad e a jogadora de futebol Magan Rapinoe.
A revista destaca que, após a morte de Marielle, Anielle começou a buscar por justiça e, logo em seguida, assumiu a dianteira das causas defendidas pela irmã, como a igualdade racial e de gênero.
"Eu perdi o medo quando eles mataram a minha irmã", afirmou a ministra em entrevista à revista. "Agora luto por algo muito maior do que eu mesma."
O perfil feito pela revista destaca que Anielle cresceu no Complexo da Maré, comunidade na zona norte do Rio de Janeiro, e começou a jogar vôlei com apenas oito anos de idade. Com apenas 16 anos, a atual ministra foi jogar nos Estados Unidos, onde viveu por 12 anos. Com as bolsas esportivas, a jovem estudou em diversas escolas americanas, como a Navarro College, a Luisiana Tech University, a North Carolina Central University e na Florida A&M University – as duas últimas consideradas instituições historicamente negras dos EUA.
De volta ao Brasil, ela fez mestrado em relações étnicos-raciais pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ).
Em 2016, Anielle trabalhava no Rio como professora de inglês e começou a ajudar a irmã mais velha, Marielle Franco, que acabara de se eleger vereadora pelo PSOL/RJ, na elaboração dos discursos políticos. O assassinato de Marielle dois anos depois virou a vida de Anielle de cabeça para baixo. No mesmo ano do crime, ela criou o Instituto Marielle Franco, numa tentativa de dar continuidade à luta política, antirracista, feminista, pró-LGBTQIA+ e pró-direitos humanos que marcou o curto mandato da irmã.
À frente do instituto, ela já liderou iniciativas importantes, como o lançamento da Plataforma Antirracista nas Eleições, em julho de 2020, para apoiar candidaturas negras nas eleições municipais. Ela coordenou também uma pesquisa para mapear a violência política de raça e gênero no Brasil com o objetivo de fazer um retrato dos direitos políticos das mulheres negras no País.
A <i>Time</i> destaca ainda que, em parte por conta do trabalho do instituto e da onda de protestos causada pelo assassinato de Marielle, um número recorde de mulheres negras concorreu a cargos eletivos nas últimas eleições no País. Vinte e nove delas foram eleitas para a Câmara dos Deputados, ante apenas 13 no pleito anterior, em 2018. Ainda assim, o número representa menos de 6% das cadeiras do legislativo nacional, em um país em que as mulheres negras representam 28% da população.
"Eu espero que a população negra ocupe um papel protagonista em nossa sociedade e não (apareça com destaque) apenas nas capas de jornais como vítimas de um genocídio", disse Anielle à <i>Time</i>.
A revista americana aponta que os assassinatos atribuídos a policiais alcançaram níveis alarmantes durante a presidência de Jair Bolsonaro, sendo que, em 2022, 84% das vítimas eram negras. Neste mesmo ano, a crise econômica pós-pandemia levou a 60% o porcentual de pessoas negras em situação de insegurança alimentar – quase o dobro do número de brancos.
"Esse era um projeto político dele (Bolsonaro); deixar em segundo plano tudo que fosse para o povo negro, o povo indígena, as mulheres, os pobres, a população LGBTQIA+", afirmou. "Estou feliz que tenhamos conseguido detê-lo."