O Ibovespa fechou o intervalo que antecede o feriado de 7 de setembro acumulando três perdas na semana, em dia de cautela também no exterior, em especial Nova York, onde o ajuste negativo chegou a 1,06% (Nasdaq) no fechamento da sessão. Nesta quarta-feira, o índice da B3 oscilou de máxima a 117.970,71 à mínima de 115.983,53 perto do fim do dia, quase idêntica ao fechamento, ainda em queda de 1,15%, aos 115.985,34 pontos, com giro a R$ 20,4 bilhões. Na semana, o Ibovespa cede até aqui 1,62%, limitando o ganho do mês a 0,21%, após uma abertura de setembro promissora, em alta de 1,86% na última sexta-feira. No ano, o índice da B3 sobe 5,70%.
Como na terça-feira, com o Brent retendo a marca de US$ 90 por barril nesta quarta-feira, e agora no maior nível desde novembro de 2022, Petrobras conseguiu se distanciar, ainda que em grau menor, das perdas que se disseminaram pelas ações de maior peso e liquidez na B3 – destaque, nesta quarta, para recuo de 1,59% em Vale ON. Petrobras ON e PN, por sua vez, subiram 0,49% e 0,45%, respectivamente, nesta quarta-feira.
A ponta do Ibovespa ficou com Braskem (+5,39%), Via (+2,56%) e Yduqs (+2,32%), enquanto Vamos (-7,10%), CVC (-4,94%) e IRB (-4,49%) puxaram a fila oposta. Entre os grandes bancos, as perdas chegaram a 1,39% (Bradesco ON) no fechamento da sessão.
De acordo com relato da agência saudita de imprensa, o príncipe herdeiro e primeiro-ministro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, conversou nesta quarta por telefone com o presidente russo, Vladimir Putin, no dia seguinte aos dois países terem confirmado redução conjunta na oferta de petróleo. Na ligação, segundo a nota, os líderes mostraram satisfação e concordância com o esforço para estabilizar os mercados globais de energia. E, na mesma ligação, foram enfatizados esforços adicionais nesse sentido.
Na máxima desta quarta-feira, o contrato do Brent para novembro foi negociado a US$ 91 por barril, na ICE, em Londres – no fechamento, mostrava alta de 0,62% na sessão, a US$ 90,60. Para além do petróleo, contudo, o dia foi de aversão a risco, com os investidores globais ainda monitorando de perto os dados de atividade nos Estados Unidos, passo a passo, de forma a antecipar o que o Federal Reserve poderá fazer ainda com relação à taxa de juros de referência. Assim, na máxima desta quarta, os rendimentos dos Treasuries de 10 anos foram a 4,30%.
"Lá fora, mercado bastante difícil, com juros ainda avançando, em meio a temores quanto a uma possível retomada de inflação. É o principal canal que tem empurrado os mercados para baixo, com petróleo para cima, o que reforça essa tensão", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research, antevendo que o Federal Reserve precisará ser "mais duro" na reunião deste mês. "Bolsa brasileira responde a essa dinâmica, com a curva de juros dando uma estressada, especialmente na ponta mais longa, com mais prêmio de risco do que se via há algumas semanas", acrescenta o analista, destacando, na B3, efeito maior sentido pelos ativos com exposição ao ciclo doméstico.
"Mercado deve ficar nessa dinâmica até que as nuvens se dissipem com a reunião do Fed em meados do mês. Até lá, não teremos nenhum gatilho tão significativo", observa Piccioni. Destaque da agenda da tarde, o Livro Bege, sumário compilado pelo Federal Reserve sobre as condições econômicas nas unidades regionais, mostrou que a atividade no país teve crescimento apenas modesto na maior parte dos distritos, em julho e agosto. O crescimento do emprego, em ambos os meses, também foi moderado, aponta o documento.
Pela manhã, o mercado havia se surpreendido com o avanço do índice de atividade (PMI) para o setor de serviços, na métrica mensal do Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), referente a agosto, em que atingiu o maior nível desde fevereiro, agora a 54,5, após leitura a 52,7 em julho.
"Juros mais altos por mais tempo do que se esperava preocupam o mercado, globalmente. Aqui, o limite imposto aos juros do crédito rotativo, com a aprovação do Desenrola, afeta as ações de grandes bancos, em baixa na sessão. Além disso, a incerteza fiscal doméstica, e dados de atividade ainda fortes nos Estados Unidos, explicam o desconforto dos investidores hoje", diz Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos. Ele destaca, por outro lado, o "rali do petróleo", que contribuiu para que Petrobras desse alguma sustentação ao Ibovespa, apesar da perda dos 116 mil pontos no fechamento, em dia bem negativo para os ativos de risco.
"PMI mais forte do que o esperado nos Estados Unidos, juntamente com o petróleo mais alto desde ontem, com a decisão saudita de estender corte de produção até o fim do ano, mostra que a pressão inflacionária pode continuar, tornando mais difícil para os BCs começarem a aliviar os apertos monetários", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, acrescentando que, nesse contexto, os mercados globais deram continuidade, nesta quarta, aos movimentos do dia anterior.