O jornalista e escritor Antonio Callado, autor de obras seminais como Quarup e Reflexo do Baile, completaria nesta quinta 100 anos (nasceu em 26 de janeiro de 1917, em Niterói, Rio, e morreu dois dias depois do seu aniversário de 80 anos, em 28 de janeiro de 1997).
O ano comemorativo do seu centenário já começou a dar frutos, com a realização de um documentário sobre sua vida e obra, Callado, Vestígios (título provisório), de Emília Silveira, em fase de montagem, e um livro de crônicas selecionadas, organizado por sua mulher, Ana Arruda Callado, que será lançado em março pela editora Autêntica.
“O filme será uma busca dos vestígios deixados pelo escritor, para trazer até nós o seu tempo e assim podermos entender melhor os nossos dias. Reunimos fragmentos do seu pensamento, encontrado em depoimentos e entrevistas de épocas diferentes”, explica a cineasta, que dirigiu dois documentários sobre a ditadura; 70 e o ainda inédito Galeria F.
Formado em Direito, Callado foi para Inglaterra, em 1941, trabalhar como redator na BBC de Londres, onde permaneceu até 1947. Ao voltar para o Brasil, ele passou a se dedicar ao jornalismo e à literatura.
Na década de 1950, ele escreveu o livro de reportagens Esqueleto da Lagoa Verde, peças de teatro e os seus dois primeiros romances, Assunção de Salviano, de 1954, e A Madona de Cedro, de 1957 (ao todo, foram nove romances).
Um dos mais importantes críticos literários do País, Davi Arrigucci, afirma, em entrevista por telefone, que a obra de Callado resistiu ao tempo, tão cruel com boa parte dos escritores que fizeram do seu ofício uma maneira de interpretar o Brasil. “Os romances e os livros de reportagens de Callado contribuíram para dar uma visão da história do Brasil, de suas implicações políticas. Uma obra investigativa, que se assemelha aos romances policiais, e que é uma tentativa de realismo crítico muito digna e de considerável importância para a literatura brasileira.”
Assim como Arrigucci, a cineasta Emília Silveira acredita que sua obra conseguiu superar o passar do tempo, principalmente em três romances – Bar Don Juan, que ela adorou, Quarup, lançado em 1967, e Reflexo do Baile, que o próprio autor considerava a sua grande obra – e o livro-reportagem Esqueleto da Lagoa Verde.
Alguns críticos, no entanto, acreditam que um certo engajamento político na obra de Callado tenha contribuído para enfraquecê-la, mas Arrigucci não concorda com isso. “Pelo contrário, ele não usou sua obra a serviço de uma ideologia ou posição política. Ele tratou de fatos históricos e suas implicações políticas e elas não desvirtuaram a questão estética dos seus livros”, afirma.
Já o homem Antonio Callado, segundo pesquisas de Emília Silveira, era discreto, educado, mas também gostava de uma vida mundana e de festas.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.