O escritor chileno Antonio Skármeta participava como patrono da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul (RS), em 2012, quando se encantou com a música entoada por um grupo de jovens. Autor renomado, Skármeta também é fascinado por canções, especialmente brasileiras, a ponto de ter composto letras que foram musicadas por Toquinho. Enamorado pela melodia, o escritor de O Carteiro e Poeta quis conhecer um dos músicos, especialmente o violonista Killy Freitas.
“Eu toquei violão e mostrei minhas músicas. Aí ele me deu uma letra que tinha escrito, mas que ainda não havia sido musicada”, conta o músico. Naquela mesma noite, Killy compôs a música e, na manhã seguinte, gravou em estúdio. Começava a entardecer quando entregou o CD para Skármeta. “Ele ficou impressionado com a minha determinação e achou a música linda,” conta Killy.
“Foi uma ótima conversa e descobrimos muitos pontos em comum no gosto musical”, lembra Skármeta, que logo viu a afinidade se transformar em parceria – a convite de Killy, ele criou canções para outras melodias e vice-versa.
Na observação de Killy, o trabalho tem sotaque sulista e portenho, com influências que vão da milonga, passando por chamamé, guarânia até samba, bolero, bossa nova e jazz fusion. “Todas as letras do Skármeta tratam muito do amor”, comenta o violonista. “E acredito que se identificou com a minha maneira de fazer música, com melodias melancólicas. Uma vez, no Chile, Skármeta comentou: Por isso que deu certo! As minhas letras também são melancólicas. Eu sou melancólico!”.
Foram dois anos de trabalho e trocas de ideias. Nesse período, eles se corresponderam, trocaram poesias, referências e melodias que resultaram no disco, composto por 13 canções, todas com letras de Skármeta, musicadas por Killy – que assina também a produção independente e os arranjos do trabalho. As gravações foram feitas entre setembro de 2012 e junho deste ano, em Porto Alegre, Santa Cruz do Sul, Montevidéu, Santiago e cidades da Inglaterra.
A dupla também filmou um clipe junta – foi em setembro do ano passado, em Santiago, onde gravou Casamentero, canção dedicada a Pablo Neruda. Aliás, Skármeta e Killy rodaram o vídeo na casa onde viveu o poeta, em Las Chascona, na capital chilena. Também foram tiradas fotos que, com as imagens captadas, fazem parte do material de divulgação do CD.
A escolha do local não foi fortuita – quando jovem, Skármeta teve uma breve convivência com Neruda, mas foi uma vivência marcante. “Conhecia muitos de seus poemas de memória e, quando caminhava com ele pela praia, mudava alguns adjetivos, criando combinações absurdas que o faziam rir”, conta o escritor, que reproduziu a experiência em Neruda por Skármeta (Record). “Em um de seus poemas de amor, Neruda afirma: Eu sou o bom poeta casamenteiro, que junta as pessoas para que se amem”.
Profundo conhecedor (e admirador) da MPB, Skármeta vê esse trabalho com Killy Freitas como uma continuação prática de seu amor pelas canções. “Conheço quase todos os clássicos brasileiros e, por isso, posso afirmar que a música do Brasil é fascinante por ser, ao mesmo tempo, lírica e intelectual.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.