João Donato caminha vagarosamente pelos estúdios da gravadora Deck, no Rio Janeiro. Com um brilho no olhar, o mesmo que lembra o de um garoto de 18 anos, o músico fala com orgulho sobre seu novo álbum, Sintetizamor, que foi gravado e produzido em parceria com o filho caçula, o jovem Donatinho. “Isso é fruto do trabalho dele, que se empenhou muito neste projeto”, revela o cantor e compositor. Aos 82 anos, até mesmo os discos mais emblemáticos e ousados da extensa e brilhante carreira de João Donato, como Donato Elétrico (2016) e Quem É Quem (1973), parecem pouco experimentais diante do recém-lançado trabalho. “A produção foi toda feita com instrumentos analógicos. A ideia era trazer o João Donato para um universo pop, eletrônico e dançante. Eu disse que ele estava proibido de tocar piano acústico neste CD”, brinca Donatinho.
A sonoridade inusitada, a princípio, pode até assustar o ouvinte mais desatento. As músicas de Sintetizamor flertam o tempo todo com o universo dos sintetizadores, dos pianos elétricos e dos instrumentos analógicos vintage. Desta forma, as composições do novo trabalho, gravadas no estúdio Synth Love, no Rio de Janeiro, fazem um mergulho instigante pelo universo dos anos 1980, território dominado com maestria pelo DJ e produtor musical Donatinho. “Este disco é a prova empírica de que o João Donato está cada vez mais jovem. Meu pai é meu grande ídolo, a minha inspiração para muitas coisas na vida. O trabalho saiu na hora certa. Isso mostra que ele é um cara versátil e não de um nicho específico”, complementa Donatinho.
Desde Managarroba (2002), há exatos 15 anos, João Donato não lançava um disco só com canções inéditas e cantadas por ele. Nos últimos anos foram apenas trabalhos instrumentais e que renderam bons frutos ao músico. Em 2016, por exemplo, Donato Elétrico foi indicado ao Grammy Latino na categoria de melhor álbum instrumental.
“Acho que ninguém conhecia muito bem essa minha faceta dançante”, brinca Donato, que, numa abafada tarde de quinta-feira, usa uma camiseta preta com um DJ fosforescente que acende e apaga as luzes conforme a intensidade do barulho. “Para fazer as fotos, sugiro que a gente fale bastante. Só assim o DJ vai ficar piscando”, brinca Donatão. “Se este disco tivesse sido feito antes, ele não teria tido um impacto tão grande. Os dois universos, o meu e o dele, entram em intersecção”, complementa Donatinho.
Coisa de família
Lei do Amor, primeiro single divulgado no final de maio, já mostrava a força desta combinação tão explosiva. Os versos fáceis e doces comprovam que a simplicidade poética das canções carregam um laço familiar difícil de ser desatado. A música é a única entre as 10 faixas de Sintetizamor que é cantada tanto por João Donato quanto por Donatinho. “Lei do Amor tem uma carga emocional muito grande. Coisa de família mesmo, sabe? A mensagem é simples, direta e objetiva. As pessoas se esqueceram que devemos amar ao próximo”, diz Donatinho, que se emocionou várias vezes ao olhar para o pai para tentar explicar a história da composição da música. “Dividir os microfones com ele é algo que sempre quis fazer. Certas pessoas achavam que isso seria impossível de acontecer”, lembra.
Rogê, Davi Moraes, Domênico Lancellotti e Ronaldo Bastos são alguns dos artistas que estão no disco. A participação da chamada “nova safra musical” dá um aspecto ainda mais jovial para o trabalho de João Donato e Donatinho. “Alguns amigos vieram me contar que Lei do Amor já está sendo tocada em baladas na Europa e em Nova York. Isso é enriquecedor”, complementa Donatinho.
JOÃO DONATO E DONATINHO
Sintetizamor (Deck)
Plataformas digitais
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.