Estadão

Aos 90 anos, o Cristo Redentor convalesce da covid

Um dos principais símbolos do País, o Cristo Redentor completa 90 anos nesta terça-feira, sob a expectativa de recuperar seu tradicional fluxo de visitantes, bastante afetado pela pandemia. Erguido a mais de 700 metros de altura em meio de uma floresta urbana, eleito uma das sete maravilhas do mundo moderno e considerado pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, o monumento ainda é um dos pontos turísticos mais procurados por quem visita o Rio. Eram quase 2 milhões de visitantes por ano até 2019 – mas o novo coronavírus fez esse número desabar.

A construção do Cristo levou cinco anos para ser concluída e é considerada uma vitória da engenharia para a época. Primeiro, pelo desafio de erguer um monumento que pesa mais de 1.100 toneladas no alto do morro do Corcovado, a 709 metros do nível do mar. Depois, por fazer com que essa estátua de concreto armado e pedra-sabão com 30 metros de altura (além dos 8 de pedestal) suportasse os ventos, as chuvas e os raios por anos.

Nesse período, o Cristo Redentor passou por algumas restaurações. Desde o início do ano, cinco pontos da estátua passam por reforma. O <i>Estadão</i> apurou, contudo, que o monumento ainda precisaria sofrer uma série de intervenções nos próximos anos. O motivo é o desgaste natural do tempo.

Para comemorar o aniversário, diversas ações estão programadas para os próximos dias. Na terça, além de missa em ação de graças com a presença de autoridades – tal qual aconteceu na inauguração, em 1931 -, haverá uma apresentação da Esquadrilha da Fumaça e o lançamento de selos e de medalhas comemorativas. No mesmo dia, será dado o início a uma festa sustentável que se seguirá até o fim de semana, na Catedral Metropolitana do Rio.

Além disso, o aniversário do Cristo também motivou outras homenagens. Uma delas, bem brasileira: a "Cachaça Redentor", que antes mesmo de seu lançamento oficial foi dada de presente ao Papa Francisco.

Na quinta-feira, mesmo com o tempo encoberto, o monumento recebeu centenas de turistas. Entre eles estava o casal Guilherme e Renata Fernandes, de Porto Alegre. "É parada obrigatória. No Rio de Janeiro, não tem como não vir ao Cristo. E somos cristãos, então acho que representa muito aquilo que a gente acredita: braços abertos, que nos recebe e que abençoa as pessoas", disse Guilherme, que é policial civil. "É um pouquinho menor do que imaginava, mas estou igualmente surpreso. O Cristo, a vista, o conjunto todo é surpreendente de qualquer forma."

O encantamento pelo monumento e pela vista não são acompanhados por outras opções de um ponto turístico. Lojinhas de suvenir, quiosques e cantinas no alto do Corcovado estão todos fechadas. Quem quiser alguma lembrança ou mesmo um pouco de água para se hidratar precisa comprar antes de subir o morro. Banheiros também são raros, e pelo menos uma das duas escadas rolantes tem se mantido desativada.

Há anos, a Arquidiocese do Rio e o governo federal não se entendem sobre o controle dos espaços. Oficialmente, a Igreja administra a estátua do Cristo Redentor e o platô do mirante, além da Capela de Nossa Senhora Aparecida, que fica na base do monumento. Os pontos comerciais, por sua vez, ficam em área pertencente ao Parque Nacional da Tijuca, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. Em 2019, o ministério conseguiu uma ordem de despejo dos lojistas, e desde o meio deste ano os espaços estão vazios.

O <i>Estadão</i> questionou o ministério sobre o tema. Na sexta-feira, a pasta informou apenas que firmará um acordo que dará "direito de uso e acesso ao Cristo Redentor". Segundo o ministério, a medida vigorará por tempo indeterminado "dando mais liberdade e segurança jurídica aos católicos que acessam o Santuário". Não foram informados detalhes do acordo.

<b>Restauro</b>

A reforma envolve uma equipe de 40 profissionais, incluindo quatro alpinistas. Um deles, Rodrigo Tavares, vai quase que diariamente ao monumento. O trabalho começa ainda de madrugada, e ao longo do dia ele sobe e desce inúmeras vezes os 12 lances de escadas instaladas no interior do Cristo. Mas o trabalho, conta, é muito gratificante. "Vou te falar: tenho 16 anos de profissão, mas pra mim é uma sensação inexplicável. É surreal. Eu trabalhei em quase todos os grandes projetos que tiveram no Brasil, mas trabalhar no projeto de restauração do Cristo Redentor é um privilégio."

O alpinista industrial conta que a parte mais difícil do trabalho é lidar com a força dos ventos. Eles mudam a todo momento e, muitas vezes, inviabilizam a atuação da equipe. Mas nada que abale o prazer de atuar no restauro do monumento nonagenário. "Estou no lugar que todo mundo gostaria de estar (interior do Cristo), e ainda recebo por isso", brinca. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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