Como prever os infortúnios que Os Novos Mutantes, filme baseado em quadrinhos da Marvel e parte do bem-sucedido universo X-Men, iria passar quando iniciou sua pré-produção em abril de 2017? Seu elenco contém jovens estrelas como Maisie Williams, de Game of Thrones, e Anya Taylor-Joy. O orçamento era modesto para filmes de super-heróis, fazendo com que o retorno financeiro fosse mais garantido. Mas adiamentos por conflito de datas e alterações no filme, a fusão da Fox com a Disney e a pandemia fizeram com que a produção, que teve seu primeiro trailer divulgado em outubro de 2017, chegasse somente em 28 de agosto aos cinemas americanos e nesta quinta-feira, 22, ao Brasil.
"O processo foi muito frustrante por causa das mudanças", disse o diretor e corroteirista Josh Boone (A Culpa É das Estrelas) em entrevista ao <b>Estadão</b>, realizada em 25 de janeiro. A data inicial de lançamento, 3 de abril de 2018, virou 22 de fevereiro de 2019, e, com a junção de Fox e Disney, foi adiada para 2 de agosto de 2019 e depois 3 de abril de 2020. A pandemia acabou impossibilitando a estreia seis meses atrás.
Os Novos Mutantes tem uma pegada mais de thriller psicológico do que de filme de super-herói e é descrito por Boone como uma mistura de O Clube dos Cinco com A Hora do Pesadelo, passando por Um Estranho no Ninho. Na trama, Dani Moonstar (Blu Hunt) acorda num hospital semiabandonado depois de uma experiência traumática.
O lugar, comandado pela Dr. Reyes (Alice Braga), abriga outros quatro adolescentes, todos traumatizados como ela e lidando com suas habilidades especiais recém-reveladas. "Eles estão passando por transformações, tentando controlar seus poderes", disse Maisie. Enquanto Dani, de ascendência indígena, consegue criar ilusões a partir dos medos das outras pessoas, a russa Iliyana Rasputin (Anya Taylor-Joy) é imprevisível e tem poderes de feitiçaria. A escocesa Rahne Sinclair (Maisie Williams) pode se transformar em lobo. O americano Sam Guthrie (Charlie Heaton) pode se lançar no espaço. E o brasileiro Roberto da Costa (Henry Zaga) manipula a energia solar.
O diretor escreveu o roteiro com seu amigo de infância Knate Lee – os dois se conhecem desde o nascimento, já que suas mães eram melhores amigas. Boone disse ter tentado ser o mais fiel possível aos quadrinhos, montando um elenco diverso. Blu Hunt realmente tem antepassados indígenas, por exemplo. Mas a escolha de Henry Zaga para um personagem que normalmente aparece como negro ou pelo menos de origem mista gerou um tanto de críticas.
"Dependendo do artista dos quadrinhos, às vezes ele é afrodescendente, às vezes, não. Para nós, era importante encontrar o brasileiro que encarnasse as características de que precisávamos. Vimos brasileiros de todos os tons, mas Henry era o melhor", disse Boone.
A série X-Men foi criada no auge da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, quando os negros estavam brigando para derrubar leis de segregação racial. Os mutantes sempre foram vistos como alegorias de quem é diferente, seja por conta da cor da pele, do gênero ou da orientação sexual. O novo longa segue a tradição, com uma diversidade de origens e tons, mas também um romance entre Dani e Rahne. "Acho que cada adolescente e cada jovem consegue se identificar com a jornada para descobrir seu próprio caminho, quem é, o que ama e o que não ama e como se aceitar", disse a Alice Braga. "Eu acredito que esse filme vai ser ótimo para o Brasil porque fala de aceitação. Estamos num período muito complicado no país, com preconceito, homofobia e falta de compreensão. Fico empolgada que jovens brasileiros vão poder se ver, se reconhecer e ter orgulho de si neste filme."
Havia um plano de uma cena pós-créditos com Antonio Banderas fazendo o pai de Roberto, mas ela nunca foi filmada. Originalmente, uma sequência se passaria no Brasil. Mas a fusão com a Disney, a pandemia e a bilheteria modesta derrubaram qualquer ideia nesse sentido. Com tudo o que aconteceu, a estreia de Os Novos Mutantes já foi, em si, uma vitória.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>