Ao menos 30 solicitações por leitos foram feitas por hospitais privados para a rede pública de saúde na capital nos últimos quatro dias. Até o momento, 15 hospitais fizeram os pedidos. A informação foi dita pelo secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido à rádio <i>CBN</i> e confirmada pelo Estadão. As solicitações ocorrem em um momento em que o aumento dos casos de covid-19 pressiona hospitais públicos e privados do Estado.
Em entrevista à rádio, Aparecido informou que os pedidos foram feitos diante do quadro de lotação dos hospitais. Seis redes – Nove de Julho, Leforte, Santa Paula, Nipo-Brasileiro, Igesp e o Grupo São Cristóvão Saúde – informaram ter atendido inicialmente pacientes sem convênio médico e disseram ter ajudado na transferência dessas pessoas para unidades do SUS. A Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo disse que "desconhece a informação".
"Nós, nos últimos quatro dias, tivemos a solicitação de 30 leitos de enfermaria e de UTI para poder atender a um conjunto de hospitais privados e de convênio, que já estão com seus equipamentos completamente esgotados e lotados para que a gente pudesse atender esses pacientes."
Ele destacou que a situação é inédita na capital. "É algo inédito, sem dúvida nenhuma, o que está acontecendo. A pandemia criou esse tipo de necessidade, infelizmente. Não se está dando conta da pressão que estamos tendo tanto no sistema privado quanto no público. Mesmo em grandes hospitais, com grandes estruturas e quantidade de leitos, estão 100% ocupados."
Aparecido falou que a forma de ressarcimento será avaliada depois, inclusive juridicamente, porque a gestão municipal tem alugado leitos da rede privada desde o ano passado para pacientes do SUS.
Os hospitais Aviccena, Albert Sabin, Nove de Julho, Edmundo Vasconcelos, Leforte, Vidas e Nossa Senhora de Lourdes solicitaram uma vaga. Igesp, São Camilo e Maternidade São Miguel pediram dois leitos. Nipo-Brasileiro, IAVC, Santa Paula e Santa Virgínia, três. E o Hospital São Cristóvão, cinco.
Em nota, o Grupo Leforte informou que a solicitação foi feita para casos de pacientes sem convênio médico. "Os pedidos de transferência feitos para a rede do SUS atendem aos pedidos dos familiares de dois pacientes que foram acolhidos, encontram-se internados e recebendo todo o atendimento, mas não possuem plano de saúde."
Os hospitais 9 de Julho e Santa Paula disseram que o procedimento de solicitação de leitos "é um procedimento comum quando o paciente que ingressa ao pronto-atendimento não tem plano de saúde ou não pode arcar com os custos como particular". Informaram ainda que os pacientes estão internados "sob cuidados da equipe médica dos hospitais até que a transferência seja feita em segurança".
O Nipo-Brasileiro informou que o procedimento faz parte do dia a dia dos hospitais da rede privada. "Tal prática, comum em todos os hospitais privados, cumpre o protocolo de atendimento de pacientes que não dispõem de convênio particular para o chamado Sistema Cross, que tem como finalidade identificar e encaminhar esses pacientes para possíveis vagas na rede pública de saúde."
O Grupo São Cristóvão Saúde disse que as solicitações foram feitas a pedido dos pacientes. "Devido a emergências, receberam os primeiros socorros no pronto-socorro da instituição e, após estabilização de seus quadros de saúde, optaram pela transferência para o SUS."
O Hospital Igesp informou que "apesar da alta taxa de ocupação devido ao aumento significativo dos casos de internação por conta da pandemia, nenhum paciente diagnosticado com covid-19 precisou aguardar para ser assistido em um leito clínico ou de Unidade de Terapia Intensiva".
Médico e presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (SindHosp), Francisco Balestrin diz que os hospitais devem ter feito as solicitações após pedidos dos pacientes.
"Provavelmente, são os pacientes que vão nos hospitais e buscam uma alternativa pública. Tem hospital que faz essa ponte."
Segundo ele, no caso da rede privada, não há um sistema de integração formal para a gestão dos leitos entre os diferentes hospitais da rede particular, mas que as unidades se comunicam para encontrar alternativas. Dessa forma, a consulta deve ser feita junto ao hospital ou à operadora do plano de saúde.
"Há alguns sistemas por meio dos quais eles se comunicam e buscam resolver a situação. Nos ligados a operadoras de planos de saúde, a rede faz ou busca fazer essa integração. Nos hospitais que pertencem a redes estruturadas, ela buscam fazer integração entre elas."
O pior cenário, de acordo com Balestrin, é o paciente chegar ao hospital, deparar-se com a falta de vagas e precisar buscar uma alternativa.
"O que tem de fazer é o que todo mundo já sabe. Tirar essa pressão de cima dos sistemas público e privado de saúde. Enquanto a vacina não chega, precisa diminuir a demanda e isso se faz diminuindo o número de pessoas contaminadas com afastamento social, uso de máscara e higiene das mãos."