Já chutaram outros anos com previsões e formas de destruição que variam desde aquecimento global até invasão de vampiros sem garras e sem graça com sua gang de Hannah Montanas. O filme 2012 é recheado de efeitos espetaculares perfeitos para descreverem a catástrofe final, porém a maior delas é o próprio roteiro.
A cada filme eles se superam quando o assunto (ou falta dele) é pieguice. A história do pai fracassado e separado tentando salvar os filhos do apocalipse não muda nunca e aqui claro, se repete. O salvador do mundo como sempre é o presidente dos EUA, desta vez negro, na pele do brilhante Danny Glover – caricato de tanto melodrama – que prefere a morte com seu povo do que a salvação. Nem Ary Toledo seria tão engraçado! O vilão, claro, um russo.
Somam-se a este festival de bobagens algumas metáforas (um verniz na tentativa de tornar a obra Cult) dando ênfase ao desmoronamento religioso, com as destruições do Cristo Redentor e do Vaticano, além da inundação de templos budistas, tentando aniquilar o poder da fé quando o fim se aproxima. E por falar em religião e fé, a ideia da salvação desta vez vem dos primórdios numa espécie de Noé high-tech e sua arca Futurama. Pelo visto os clichês descritos foram todos seguidos à risca da cartilha “como se fazer um filme catástrofe de acordo com Michael Bay” e chegam a cansar tanto a paciência do espectador, a ponto de em alguns casos, estes se sentirem mais à vontade entre as lavas de um vulcão do que na sala de cinema.
Não sei bem se Nostradamus ou Mãe Dinah acertarão quando o mundo vai acabar, mas que o fim está próximo não precisa pensar muito para saber. Emissões de poluentes em excesso tornando o ar irrespirável em diversas regiões do planeta, fazendo das quatro estações apenas uma obra de Vivaldi ou um extinto disco da Legião! O desmatamento de duas mil arvores por ano para suprir o luxo de uma madame que com uma gotinha de seu Chanel número 5, tenta disfarçar o mau cheiro de sua mediocridade. Filhos assassinam pais, criminosos comandam ações de dentro da cadeia, corruptos assumidos se reelegem, crianças trabalham como escravas, estudantes queimam índios por puro lazer e outros humilham e ofendem uma jovem desinibida, que depois da desforra, mesmo sem talento algum se torna personalidade nacional.
Creio que só isto seja um sinal de que as coisas não andam bem por aqui, mas para por mais fogo neste vulcão, nosso querido Brasil que tem fama de ser um dos países mais pacifistas do mundo recebe com honrarias uma figura contraditória como Ahmadinejad, atual presidente do Irã, que venceu as eleições de forma fraudulenta. Este extremista, além de torturar e aniquilar adversários, afirma que o Holocausto foi uma grande fraude. Junto de seu amigo Hugo Chávez planeja dominar o mundo, antes de 2012, claro.
Mas até lá a gente segue feliz se preparando pra copa e para as olimpíadas brazucas, caso o mundo não acabe de novo. Enquanto John Cuzack foge de avião da catástrofe, nosso querido Lulinha, o adolescente rebelde de 40 anos, usa aviões da força aérea para passeio com seu bom e querido pai, assim como o presidente dos filmes de ação americanos se torna também herói nos cinemas com um filme que custou a bagatela de 17 milhões de reais – Woody Allen faz filme com 5 milhões e ainda estrelas de cinema – e conta sua história escrita pelos irmãos Grimm.
A estreia prevista para 2010, ano eleitoral no Brasil. Seria 2010 o nosso 2012? É meus caros sete leitores, será que estamos diante do Big Brother de George Orwell? Assim como Sócrates, só sei que nada sei, mas uma coisa posso lhes afirmar: assistindo 2012 o único pensamento que lhe passa à cabeça é porque o mundo não acabou antes de você ter comprado o seu ingresso?
Maurício Nunes é autor do livro Sob a Luz do Cinestar e também mantém o site www.aerosilva.com