Estadão

Apesar da pressão sobre Petrobras, Ibovespa vira e sobe 0,21%

Uma combinação de fatores negativos – nova troca de comando na Petrobras, IPCA-15 acima do esperado para maio e fracas leituras sobre a atividade econômica nos Estados Unidos e na Europa, além dos casos de covid em Pequim, China – mantinha o Ibovespa em baixa desde a abertura desta terça-feira. Ainda assim, a referência da B3 conseguiu não apenas preservar a linha de 109 mil pontos como recuperar, no fim da tarde, a marca dos 110 mil, vista no dia anterior em fechamento pela primeira vez desde 25 de abril. Na máxima, foi nesta terça-feira aos 110.635,27 pontos, em alta de 0,26%.

Após ter tocado na mínima os 108.399,23 pontos, saindo de abertura aos 110.340,07, o Ibovespa virou e mostrava ao final do dia leve ganho de 0,21%, a 110.580,79 pontos, com giro financeiro a R$ 30,5 bilhões. Na semana, sobe 1,93% e, no mês, 2,51% – no ano, o avanço é de 5,49%.

Entre as blue chips, destaque para Petrobras ON e PN, em queda respectivamente de 2,85% e 2,92% no fechamento. Por outro lado, Vale ON teve alta de 1,35% e o desempenho dos grandes bancos também foi positivo (Bradesco PN +2,10%, Itaú PN +1,51%), à exceção de BB ON (-0,42%), o que contribuiu para o quarto avanço consecutivo do Ibovespa.

Ao fim, o desempenho mais firme de mineração e siderurgia (CSN ON +1,60%, na máxima do dia no fechamento), assim como de utilities (Cemig PN +2,23%; Eletrobras PNB +2,04%, Eletrobras ON +1,99%, ambos os papéis também nos picos da sessão no enceramento), e dos grandes bancos, prevaleceu sobre as perdas em Petrobras, que se acomodaram abaixo de 3% no fechamento. Na ponta do Ibovespa, PetroRio (+3,90%), Equatorial (+3,56%) e 3R Petroleum (+3,39%). No lado oposto, CVC (-6,30%), Azul (-5,78%) e Embraer (-5,61%).

Pela manhã, "o IPCA-15 veio acima das expectativas, a 0,59% frente a 0,45% de expectativa para maio, apesar da redução em relação ao mês anterior pelo efeito da bandeira tarifária de energia elétrica. A difusão continua bastante elevada, apesar de ter havido também uma desaceleração", diz Eduarda Korzenowski, economista da Somma Investimentos. "Tem havido surpresas positivas pelo lado da atividade, mas pelo lado da inflação as surpresas continuam negativas", acrescenta a economista, que espera novo aumento da Selic na próxima reunião do Copom, e "muito provavelmente com porta aberta para novos ajustes".

Ela chama atenção também para os receios persistentes quanto à desaceleração econômica não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa, e para a cautela suscitada desde a abertura dos negócios por nova troca de comando na Petrobras, anunciada na noite de segunda-feira.

"Após 40 dias, uma nova troca. Um canetaço para mudar a política de preços seria um tiro no pé para o próprio ministro Guedes da Economia, a quem o novo presidente indicado para a Petrobras, Caio Paes de Andrade, era subordinado, como secretário de Desburocratização do Ministério", diz Arthur Schneider, responsável pela distribuição de produtos na Monte Bravo Investimentos. Ainda assim, em Nova York, pela manhã, os recibos da Petrobras caíam 12% antes da abertura dos negócios na B3.

"O mercado se pergunta: qual o motivo de uma troca tão rápida? A última era ainda bem recente e, além disso, já existe uma defasagem de preços para a gasolina e o diesel em relação à paridade internacional. E chegando nesse momento, perto da eleição, a incerteza cresce quanto à continuidade da política de preços da empresa", diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

"A percepção de risco sobre a estatal cresce visto que, apesar dos bons resultados apresentados no último trimestre em relação ao lucro, ao operacional e à distribuição de dividendos, houve uma série de trocas recentes e o mercado enxerga isso como tentativa de interferência na tomada de decisões da estatal", conclui Oliveira.

"Pelo lado técnico, o indicado é muito capacitado, da equipe do Guedes e tudo mais. Mas quando se olha pelo lado do investidor, essa constante alteração de diretorias demonstra, de alguma forma, que o governo quer interferir no preço do combustível. O grande mote é o ano eleitoral, com pressão inflacionária grande – mas o responsável é a commodity, em nível elevado no mundo inteiro", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

"Interferência do governo é ruim para a empresa e para o investidor. Mas mudança em política de preços não haverá, porque depende de mudança no estatuto da companhia", acrescenta Moliterno. Ele considera que o cenário mais provável é de "espaçamento" dos repasses e reajustes de preços, em até três ou quatro meses – o que pode ser positivo ou negativo para a Petrobras, a depender da trajetória das cotações da commodity. "Ruído, de qualquer forma, não é bom para os investidores."

O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, deve permanecer no comando até a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da estatal, segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), no Rio. A expectativa é de que a assembleia seja convocada na quarta-feira, na reunião do Conselho de Administração.

Nos corredores do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, evitou falar da nova mudança de comando da Petrobras, reporta o enviado especial do Broadcast, Altamiro Silva Junior. Nas reuniões privadas que tem feito, o ministro afirmou que não tem sido perguntado sobre a empresa. "O presidente Jair Bolsonaro escolhe o ministro Adolfo Sachsida, e o ministro escolhe o presidente da Petrobras", disse Guedes em conversa com jornalistas.

O conselho da empresa ratifica o nome escolhido e a diretoria da estatal, completou Guedes. "E eles definem a política de preço dos combustíveis", disse também o ministro. José Mauro Ferreira Coelho foi o terceiro presidente da estatal no governo Bolsonaro, sucedendo Joaquim Luna, que também caiu por divergências com o Planalto sobre a política de preços dos combustíveis, que busca ajuste ao câmbio e às cotações internacionais da commodity.

Por sua vez, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou nesta terça que o novo presidente da Petrobras precisa de autonomia para trocar as diretorias da empresa, e o vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que o governo federal deseja dar "previsibilidade" aos reajustes dos combustíveis anunciados pela Petrobrás.

"Tivemos a troca do comando do ministério, para o ministro (Adolfo) Sachsida (das Minas e Energia). Acho que a política que diz respeito a esse setor no país, apesar de a Petrobras ter independência de gestão, tem que estar completamente alinhada com o novo ministro. Então, já era esperado", disse Nogueira em entrevista ao SBT News.

Para piorar, os dados do dia nos Estados Unidos, e também na Europa, não contribuíram e mantiveram as três referências de Nova York no vermelho ao longo da maior parte da sessão, assim como as principais praças do velho continente, onde os índices de atividade PMI, nas prévias de maio, decepcionaram na zona do euro, na Alemanha e também no Reino Unido, no momento em que o Banco Central Europeu (BCE) se prepara para elevar os juros de referência no bloco da moeda única.

Nos Estados Unidos, "as leituras preliminares do PMI mostraram uma desaceleração mais acentuada na atividade econômica à medida que as pressões inflacionárias persistem", aponta em nota Edward Moya, analista da OANDA em NY, na qual observa que a atividade manufatureira caiu para mínima de três meses, "e o que surpreendeu muitos foi uma deterioração ainda maior na atividade do setor de serviços", de 55,6 para 53,5, em mínima de quatro meses.

"A cartilha que a maioria dos traders estava usando era que a produção industrial enfraqueceria, mas isso deveria beneficiar o setor de serviços", acrescenta o analista da Oanda. "Parece que as pressões inflacionárias estão tendo um impacto pior na economia dos EUA e que o crescimento da demanda está enfraquecendo acentuadamente", diz Moya, chamando atenção também para o índice de atividade industrial regional do Fed de Richmond, em leitura "abismal, bem abaixo da previsão mais pessimista".

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