Estadão

Apesar de exterior, Ibovespa cai de olho em cena política, petróleo e IPCA-15

Apesar da calmaria externa, o Ibovespa tem movimentos claudicantes e com viés negativo na manhã desta sexta-feira, 23. O índice tem dificuldade em defender os 126 mil pontos, mesmo com sinais promissores de retomada econômica no exterior, após indicadores informados na Europa, apesar dos temores relacionados à variante delta do coronavírus. Já nos EUA, o chamado PMI Composto, que agrega os setores da indústria e de serviços, caiu a 59,7 em julho (preliminar).

Com este comportamento, o Ibovespa já registra perda na semana. Às 10h51, o recuo semanal era de 0,13%, com o índice cedendo 0,27% nesta sexta-feira, aos 125.755,94 pontos, após máxima aos 126.203,87 pontos.

Ontem, recorda Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo, foi um dia "ilustrativo", diz, ao referir-se ao sobe e desce do índice ao longo do dia, mas que, no final, conseguiu fechar em alta. "O Ibovespa estava reticente com a alta externa. Resultados como os do Twitter maior alta em sua receita desde 2014 criam boas perspectivas para outras empresas, como Google. Isso cria um certo otimismo, mas aqui parece que tem um freio, e o Ibovespa não anda por conta de preocupações políticas", diz.

No campo inflacionário, os preços seguem elevados no Brasil, conforme retratado no IPCA-15 de julho, enquanto a instabilidade nas cotações do petróleo no exterior pode limitar ou até mesmo impedir alta nas ações da Petrobras, após dados de produção do segundo trimestre.

"O tom parece um pouco mais ameno lá fora, o que ainda pode influenciar os negócios no Brasil. A agenda econômica está um pouco mais vazia", diz André Chede, planejador financeiro CFP pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros. Ele pondera, contudo, que o que tem movimentado o mercado ultimamente é o político, com dúvidas sobre o fundo eleitoral e reforma tributária.

Na opinião de Chede, a grande questão é se os ruídos políticos vão atrasar o andamento da agenda de reformas do País. "Ontem, a Bolsa teve um dia volátil e acabou fechando no positivo alta de 0,17%, aos 126.146,66 pontos", recorda.

A despeito da cautela com as questões políticas internas, a greve dos caminhoneiros esperada para o domingo tende a ter adesão baixa, avalia Cássio Bambirra, sócio da One Investimentos, escritório plugado ao BTG Pactual. Por isso, acredita que o mercado pode ignorar o evento, devendo acompanhar mais os sinais positivos do exterior.

Além disso, acrescenta Bambirra, a afirmação do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, de que haverá eleição em 2022, após o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, ameaçar a realização do pleito no ano que vem, também traz certo alívio. "Isso é extremamente importante, dá segurança política", diz, completando ainda a expectativa de flexibilização das medidas contra o coronavírus em São Paulo hoje pelo governo local.

Além da instabilidade do petróleo no exterior, o recuo de 0,64% do minério de ferro pode pesar na Bolsa hoje, assim como a inflação mais salgada em 12 meses medida pelo IPCA-15. As ações da Vale ON cediam 0,95%, enquanto as ações da Petrobras tinham sinais mistos, após leve alta em sua produção no segundo trimestre. PN subia 0,11% e ON cedia 0,83%.

Mesmo com a desaceleração na margem, os riscos inflacionários seguem altistas, estima a equipe de Macro Research do BTG Pactual digital. Essa expectativa reflete ainda, conforme a nota, o descasamento entre a oferta e demanda das cadeias de produção pressionando a inflação de bens industriais. Outros riscos, acrescentam, são o cenário hidrológico desfavorável, a retomada da atividade econômica no segundo semestre e o clima adverso pressionando os preços de alimentos in natura.

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