Estadão

Apesar de recorde em NY, Ibovespa inicia ano em baixa de 0,86%, aos 103,9 mil

Com agenda esvaziada neste primeiro dia útil do ano, o Ibovespa iniciou 2022 como se comportou em 2021, em baixa. Hoje, a referência da B3 caiu 0,86%, a 103.921,59 pontos, entre mínima de 103.413,40 e máxima de 106.125,47 pontos, com giro a R$ 24,7 bilhões na sessão, vindo de perda de 17,33% no último semestre e de 11,93% ao longo do ano passado. Em Nova York, replicando o que se viu durante 2021, o começo de 2022 foi positivo para os três índices de referência, assim como para o petróleo Brent (Londres) e o WTI (NY). Em Wall Street, Dow Jones e S&P 500 registraram hoje novos recordes históricos de fechamento.

Dessa forma, Petrobras (ON +2,67%, quarta maior alta do Ibovespa no dia; PN +2,25%) e bancos (Bradesco PN +2,50%, Itaú PN +2,77%, terceira maior alta da carteira teórica) contribuíram para que o Ibovespa mitigasse perdas, mas sem conseguir sustentar, ao fim, os 104 mil pontos neste primeiro fechamento do ano – Vale ON, que era beneficiada pelo avanço do minério na China, perdeu força em direção ao fechamento, em alta de apenas 0,05% na sessão. "As commodities de energia e de materiais básicos seguem em tendência de recuperação desde a semana passada, com a avaliação de que a Ômicron não é significativamente pior quanto a hospitalizações", diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Em Nova York, a referência ampla, o S&P 500, fechou 2021 acumulando ganho de 27%, um ano forte, com 70 fechamentos recordes, observa também Franchini. Apesar dos mais recentes desdobramentos, "a Ômicron segue como fator principal de atenção neste início de ano, e 2022 será um ano de mudanças significativas no modelo monetário, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa", acrescenta.

Lá fora, a semana reserva a ata da mais recente reunião de política monetária do Federal Reserve, na quarta, e o relatório de dezembro sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, na sexta-feira – importantes fatores de orientação para os mercados. "No Brasil, mudamos o calendário, mas em absolutamente nada os problemas estruturais que temos aqui", diz Franchini, destacando o ano eleitoral, que contribui para um quadro mais volátil, e o encaminhamento que terá o lado fiscal.

"Quando se olha para 2021 e os fundamentos das empresas, o que se viu de forma geral foi bastante positivo quanto a lucro, receita e distribuição de dividendos, muito relevante, com entregas expressivas também neste último caso, algumas com taxas acima de 20%. Mas, do segundo semestre pra cá, houve uma série de outras pautas, como o aumento de juros, a situação fiscal e a Ômicron aos 45 do segundo tempo, que cortaram a recuperação. Assim, entre os setores e ações que mais sofreram estão as small caps , os índices de consumo e imobiliário, com exposição à economia doméstica", diz Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos.

"O P/L (preço/lucro) da Bolsa fechou o ano em torno de 8 vezes, para uma média histórica de 11 a 12. Isso reflete tanto a queda significativa de preço das empresas como avanço vertiginoso dos resultados contábeis. Esse descasamento entre preço e fundamento das empresas ficou ainda mais evidente no período de fechamento do ano. Começamos 2022 com Bolsa muito barata, valuation extremamente atrativo, em patamar de 2008 ou 2016", acrescenta Brito, chamando atenção tanto para oportunidades de compra para os locais como para os estrangeiros, especialmente nas blue chips.

Na ponta do Ibovespa nesta primeira sessão do ano, destaque para BRF (+3,11%), segunda maior alta do dia, "após a empresa defender o aumento de capital frente a questionamentos do fundo Petros", diz Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos. "Uma das preocupações é a evolução da dívida bruta da empresa, dado que ela tem um componente cambial muito forte", acrescenta. Na face oposta do índice nesta segunda-feira, Cyrela (-7,98%), Alpargatas (-7,00%), Magazine Luiza (-6,93%), Multiplan (-6,78%) e JHSF (-6,63%). "Com a expectativa de manutenção da política da alta de juros, é esperado que o setor de construção civil seja um dos que mais sofram", diz Medeiros.

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