Estadão

Apetite a risco das instituições financeiras é ponto de atenção, diz BC

O Banco Central considerou que o continuado crescimento de apetite a risco das instituições financeiras é um ponto de atenção, especialmente em linhas de crédito para famílias de maior risco e retorno, conforme ata divulgada nesta quinta-feira da 49ª reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), que manteve o Adicional Contracíclico de Capital Principal relativo ao Brasil (ACCPBrasil) em 0%.

O ACCPBrasil é uma parcela do capital a ser acumulada na expansão do ciclo de crédito e consumida na sua contração, que trata o risco sistêmico cíclico do crédito e dos preços dos ativos.

Segundo o Comef, o crescimento do apetite a risco deve elevar a inadimplência – que, até o momento, tem ficado comportada -, ainda que dentro de padrões históricos. "As operações com cartão de crédito e de crédito não consignado crescem em ritmo elevado."

Por outro lado, o comitê destacou que o crescimento das concessões de crédito imobiliário tem arrefecido, ainda que permaneçam historicamente elevadas. A razão para a desaceleração, ressaltou o colegiado, é o aumento das taxas de juros, o que gera pressão sobre o funding e o spread da modalidade. "O Comef avalia que é importante que os intermediários financeiros continuem preservando a qualidade das concessões", completou.

Em relação às provisões, o Comef afirmou que seguem adequadas, acima das estimativas de perdas esperadas. Para as empresas, o comitê destacou que a materialização do risco de crédito estabilizou-se, após um longo período de queda. "No caso das famílias, o crescimento da carteira de ativos problemáticos começa a superar marginalmente o da carteira de crédito. Essa tendência deverá permanecer com o crescimento do crédito em modalidades mais arriscadas", reforçou.

Na parte da ata que avalia o Sistema Financeiro Nacional (SFN), o Comef considerou que o crescimento do crédito amplo continua condizente com os atuais fundamentos econômicos. Segundo o BC, o crédito para pessoas físicas manteve o ritmo de crescimento, destacando novamente as modalidades com maiores retornos e, consequentemente, com maiores riscos.

No caso do crédito às micro, pequenas e médias empresas, o comitê disse que o crescimento continua acima do período pré-pandemia, com a substituição dos programas governamentais pelo crédito bancário tradicional. Já as empresas de maior porte têm acessado principalmente o mercado de capitais, que, segundo o BC, permanece aquecido.

O BC ainda considerou que os níveis de capitalização e de liquidez do SFN mantiveram-se superiores aos requerimentos prudenciais. "O sistema tem mantido níveis de ativos líquidos suficientes para absorver potenciais perdas em cenários estressados, apesar da redução do volume de liquidez disponível, fruto da adequação às atuais condições de mercado e à concorrência por funding."

Em relação ao capital, o BC avaliou que, embora a rápida elevação do custo de captação tenha reduzido as margens de crédito, o nível da rentabilidade se mantém estável pela elevação da renda com ativos de tesouraria. "Os resultados dos testes de estresse demonstram que o sistema está resiliente. A avaliação de cenários de estresse macroeconômico indica que o sistema não apresentaria problema relevante", completou.

<b>Preços de ativos e alta no crédito</b>

O Banco Central avaliou ainda que preços dos ativos e o crescimento do crédito não representam preocupação no médio prazo, mas destacou que há incertezas a serem acompanhadas, conforme a ata divulgada da 49ª reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef).

O comitê considera que a política macroprudencial atual segue adequada, sem necessidade de ajustes no curto prazo, e decidiu que o ACCPBrasil seguirá em zero nas próximas reuniões. "A neutralidade da política macroprudencial continua apropriada, considerando as expectativas do Comef sobre o crescimento do crédito."

Em relação às incertezas, o Comef afirmou que uma frustração substancial do desempenho da atividade econômica pode resultar em elevação do risco de crédito. Isso deve-se, conforme o comitê, ao crescimento das modalidades de crédito com maior risco e retorno e à consequente tendência de alta da inadimplência, ainda que dentro de padrões históricos – questão citada várias vezes na ata.

Além disso, o BC afirmou que o endividamento e o comprometimento de renda das famílias têm aumentado. "As informações disponíveis indicam que os preços dos ativos têm se comportado em linha com os fundamentos econômicos", disse. "O Comef segue recomendando que as IFs mantenham a prudência na política de gestão de crédito e de capital."

O Comef destacou que, em abril, foi concluído o processo de restabelecimento da parcela Adicional de Conservação de Capital Principal (ACPConservação), que retornou ao patamar de 2,5%. "A referida parcela foi reduzida a 1,25% em março de 2020 no âmbito das medidas então adotadas para enfrentar os efeitos econômicos da pandemia, tendo sido progressivamente restabelecida a partir de abril de 2021."

Diante desse quadro, o Comef decidiu que o ACCPBrasil continuará em 0% nas suas próximas reuniões. "A decisão considerou as condições financeiras mais restritivas, os preços dos ativos e as expectativas quanto ao comportamento do mercado de crédito."

Aumentos do ACCPBrasil entram em vigor somente um ano após as deliberações do Comef.

O comitê voltará a se reunir ordinariamente em 1º de setembro de 2022.

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