As questões de violações dos direitos humanos levantadas antes e durante a realização da Copa do Mundo do Catar, no ano passado, não saíram do debate público e, um ano depois do torneio, ainda geram cobranças de grupos como a Anistia Internacional, que, nesta quinta-feira, pressionou o governo catariano e a Fifa. A entidade pede o cumprimento das ações de apoio aos imigrantes que trabalharam nas obras de infraestrutura do Mundial.
Desde que o Catar foi escolhido para sediar o evento, há 13 anos, muitas críticas foram feitas à Fifa, justamente por causa da reputação do país em oferecer condições ruins de trabalho aos imigrantes, além de outras questões, como preconceito de gênero e com a comunidade LGBTQIA+. A Fifa e governo se esforçaram para mostrar avanços, mas, na avaliação da Anistia, o progresso foi deixado de lado após o fim da Copa.
"O Catar e a Fifa devem agir urgentemente para garantir que o direito das vítimas à reparação e à compensação não seja negado ou adiado por mais tempo", afirmou a entidade, em comunicado. A própria Fifa, em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho, reconhece que é necessário fazer mais para que reformas legislativas sejam aprovadas no Catar.
Os direitos trabalhistas continuam sendo um problema sério na nação árabe, que gastou cerca de US$ 200 bilhões em um enorme projeto de construções para poder sediar o maior evento de futebol do mundo. Foram construídos estádios, estradas, linhas de metrô e hotéis. A infraestrutura será aproveitada em janeiro de 2024, quando o país irá sediar a Copa da Ásia.
"Os abusos relacionados com a Copa do Mundo d 2022 devem servir para lembrar aos organismos desportivos que os direitos humanos devem estar sempre no centro das decisões", Seve Cockburn, responsável pela justiça social econômica da Anistia Internacional, que também destacou a necessidade de que a Fifa "aprenda com seus erros".
De acordo com a Anistia, o Catar ainda carrega problemas como a limitação da liberdade dos trabalhadores para mudar de emprego e o congelamento do salário mínimo ao nível de 2021. "O contínuo fracasso do Catar em aplicar ou reforçar adequadamente as suas reformas laborais anteriores à Copa coloca qualquer legado potencial para os trabalhadores em sério perigo", afirmou a entidade.
O governo catariano, por sua vez, disse, nesta quinta, que "sempre teve a intenção de continuar" com seu compromisso referente aos direitos trabalhistas. "O Catar agora é um líder da região quando o assunto é direitos dos trabalhadores e reformas trabalhistas, estabelecendo um exemplo para outros países sobre como um sistema pode ser reformulado com sucesso", afirmou o gabinete de comunicação social do governo.
Uma das principais pautas levantadas pelos grupos de direitos humanos e até por federações membros da Fifa é a indenização às famílias dos trabalhadores que morreram ou se feriaram durante as obras para a Copa do Mundo. Antes da Copa, a Fifa se disse aberta a criar um fundo de compensação. Até o momento, a federação se limitou a criar um subcomitê de Direitos Humanos e Responsabilidade Social que estuda quais são as suas obrigações legais e o que pode ser feito a favor dos trabalhadores.
"É inegável que ocorreram progressos significativos, e é igualmente claro que a aplicação de tais reformas transformadoras leva tempo e que são necessários esforços acrescidos para garantir que as reformas beneficiem todos os trabalhadores do país", disse a Fifa. Já Organização Internacional do Trabalho, agência da Organização das Nações Unidas, reconhece que "desafios indubitavelmente significativos" continuam em curso no Catar.