O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (PT-SP), admitiu em entrevista que a possibilidade de o partido apoiar a reeleição para a presidência da Casa de Rodrigo Maia (DEM-RJ) ou a eleição de Jovair Arantes (PTB-GO), ambos apoiadores do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff e aliados de Michel Temer, pode ser mal recebida pela militância do partido.
“A maioria dos eleitores, principalmente aqueles que foram à luta, provavelmente não vão entender esta questão. Vão ter dificuldade de entender e assimilar essa proposta da mesma forma que eleitores do PSDB tiveram dificuldade quando o Lula governava e o Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi eleito com apoio dos tucanos”, disse o deputado.
A comparação é rejeitada pela esquerda do partido que argumenta que na eleição de Chinaglia não havia um episódio tão grave que afastasse os dois partidos como foi o impeachment (ou “golpe”, segundo os petistas).
Segundo Zaratini, a dificuldade se deve ao fato de a maioria do eleitorado considerar a eleição do presidente da Câmara sob a lógica das disputas por cargos majoritários enquanto, conforme ele, funciona de outra forma.
“É uma coisa difícil de entender porque a gente tende a ver a política como preto ou branco. Existe todo um meio de campo que não é de acordos venais mas de situações onde a gente consegue ganhar espaço para fazer oposição”, explicou Zarattini.
Na semana passada o Diretório Nacional do PT decidiu liberar a bancada para fazer acordos com qualquer candidato à presidência da Câmara. A prioridade deve ser garantir a aplicação da reciprocidade que dá ao PT, dono da segunda maior bancada, direito a assento na mesa diretora.
Correntes de esquerda agrupadas no Muda PT reagiram negativamente e fizeram uma campanha contra a decisão da direção sob o lema “petista não vota em golpista”. A decisão final da bancada será tomada no dia 31 mas o próprio Zarattini admite que será impossível controlar todos os deputados já que o voto é secreto.
“Nós não vamos votar no Rodrigo Maia para ser primeiro ministro do Temer”, resumiu o líder petista.
Lava Jato
Autor de um projeto de lei que normatiza a prática do lobby no Brasil, Zarattini defendeu que a Câmara discuta “critérios” sobre supostas crimes praticados por parlamentares citados nas delações da Odebrecht antes de avaliar o próprio conteúdo dos depoimentos.
“Está se criminalizando a relação empresarial com deputados. Me parece que a gente tem que fazer uma boa discussão sobre isso antes mesmo de avaliar essas delações para a gente ter critérios e discutir o que vai aparecer”, defendeu ele. “Impedir a relação entre empresários e parlamentares é querer impedir que o sol brilhe de manhã”, completou.
Previdência
O líder do PT na Câmara disse ainda que o partido prepara uma série de ações para tentar impedir a aprovação da reforma da Previdência no Congresso e que a oposição ao projeto poderá contar com a participação de bancadas que hoje fazem parte da base aliada do presidente Michel Temer, como o PTB e o Solidariedade.
A crença de Zarattini em uma vitória contra o governo no debate sobre a Previdência se baseia principalmente na forma como o partido atuou com o projeto de renegociação das dívidas dos Estados com a União.
“Ganhamos a rejeição ao projeto que arrochava os Estados em troca da negociação das dívidas, comandamos a votação e obtivemos o resultado, tanto que Temer teve de vetar um projeto da sua iniciativa. Está aí embasada a ideia de barrar a reforma da Previdência”, disse, em entrevista à TV Estadão, argumentando que o PT não perdeu todas as votações.
O petista afirmou que partidos como o PTB e o Solidariedade, que fazem parte da base de Temer, também devem se opor à reforma da Previdência. “A oposição não é só do PT ou da esquerda, é mais ampla”, declarou. Segundo Zarattini, as ações contra a reforma devem ser desde manifestações de rua até a realização de plenárias e articulações com lideranças religiosas. “Vamos divulgar os malefícios da reforma da Previdência, que é repudiada pela população”, disse.