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Após análise de dois poços, Bahia promete ampliar amostra em região de urânio

A “força-tarefa” que o governo da Bahia prometeu realizar na região de Lagoa Real e Caetité, no sudoeste do Estado, para verificar a qualidade da água consumida pela população, conseguiu verificar, até o momento, a qualidade da água de apenas dois poços, embora tenha coletado a água de três reservatórios em sítios da região.

A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) do governo da Bahia confirmou a informação. Não foi explicado porque somente dois poços tiveram suas águas analisadas até agora, tampouco porque a amostra do terceiro poço deixou de ser analisada.

Segundo o secretário de meio ambiente da Bahia, Eugenio Spengler, os laudos de dois poços apresentaram presença de urânio, mas em quantidade “dentro do limite” tolerado para consumo humano. Spengler admitiu, no entanto, que é preciso ampliar o número de amostras para verificar se há riscos no abastecimento. Independentemente desses e dos próximos resultados, o governo confirma que vai implantar um serviço de monitoramento permanente na região.

“Deu presença de resíduos de urânio, mas dentro dos limites permitidos. O que apresentou forte presença foi o ferro. Nós temos um problema grande de presença de minério de ferro na água daquela região”, disse Spengler. “Mas realmente queremos uma amostra mais significativa. Por isso, vamos ampliá-las. Estamos identificando novos pontos de amostras, para ver o que está contaminado ou não. Novas coletas serão feitas em outubro para análise.”

O tema foi debatido em reunião realizada na segunda-feira, 28, com órgãos municipais, estaduais e federais. A Agência Nacional de Águas (ANA), que inicialmente declarou que a responsabilidade pela gestão da água de poços era do Estado baiano e que não tinha condições de comparecer ao encontro, enviou para Salvador o coordenador da agência Volney Zanardi, ex-presidente do Ibama. Do governo federal, também participaram representantes do Ministério da Saúde, da Vigilância Sanitária, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e do Ibama.

Da esfera estadual, o encontro recebeu membros do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), da Companhia de Engenharia Ambiental e Recursos Hídricos da Bahia (Cerb) e da Vigilância Sanitária do Estado. As prefeituras de Lagoa Real Caetité enviaram seus secretários do meio ambiente.

“Iniciamos o processo de levantamento de todos os pontos de captação de água para abastecimento humano próximos à província uranífera, que envolve a área dos municípios de Livramento de Nossa Senhora, Lagoa Real e Caetité. Vamos fazer um levantamento de todos esses pontos. Só em Lagoa Real já há uma relação de 95 poços só nesse município”, disse Eugenio Spengler.

Uma nova reunião sobre o assunto está prevista para ocorrer na próxima semana. Segundo o secretário, o grupo que participou do encontro será permanente. Nos próximos, afirmou Spengler, o Ministério da Saúde deve encaminhar ao governo baiano informações sobre a incidência de casos de câncer na região.

O secretário disse que, informalmente, o ministério já teria informado que a incidência de casos de câncer na região não é diferente da realidade da doença em todo o País. Não é o que declarou, porém, a Secretaria da Saúde do próprio governo baiano, que no fim da semana passada anunciou a instalação de uma unidade especializada em tratamento de câncer no município de Caetité.

Segundo a diretora da atenção especializada da Secretaria de Saúde, Alcina Romero, desde 2012 dados já apontavam que havia um volume de pessoas com a doença superior à média de toda Bahia. Enquanto a doença é a terceira causa de morte no Estado, na região de Caetité e Lagoa Real sobe para a segunda posição.

O problema é antigo e, nos últimos anos, foi alvo de diversas denúncias por organizações ambientais e sociais. A estatal Indústrias Nucleares do Brasil (INB), que opera em Caetité desde 2000, sempre negou haver qualquer tipo de contaminação na região, seja por meio natural ou em decorrência de suas atividades. A empresa garante que, apesar de haver presença de material radioativo na água da região, está fica sempre abaixo do limite aceito pelos órgãos de controle.

A própria INB, no entanto, já havia identificado, em outubro do ano passado e em março deste ano, um poço com presença de urânio mais de quatro vezes o tolerável para consumo humano. A informação não foi comunicada aos órgãos estaduais e federais. A empresa alega que não tinha responsabilidade pelo caso, porque o poço está fora da área de sua responsabilidade, a 20 km de sua mina.

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