O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) atingiu 12,08% no acumulado dos 12 meses encerrados em fevereiro, o maior nível desde outubro de 2008, quando ficou em 12,23%. A taxa do segundo mês de 2016 deve representar um pico da inflação, já que a tendência é de que o indicador desacelere, mas ainda permaneça elevado, segundo Salomão Quadros, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV). “A taxa em 12 meses deve começar a desacelerar um pouco, mas não vai despencar. Não deve se distanciar muito dos 10%”, estimou.
Segundo o economista, diversos fatores que pressionaram os preços neste início de ano tendem a se dissipar a partir de março, tanto no âmbito do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), como entre os componentes do Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Eles contribuiriam, dessa forma, para um comportamento mais favorável da inflação em 2016 na comparação com 2015.
Quadros destaca que, diferentemente do ano passado, quando a alta do IPA era decorrente principalmente da desvalorização cambial, neste ano as pressões são difusas. “Agora, você tem alimentos in natura, repasses de preços ao longo da cadeia, problemas agrícolas em algumas áreas. Como nem todas essas pressões vão se reverter simultaneamente, a trajetória de desaceleração não deve ser tão forte a ponto de superar um ponto porcentual entre um mês e outro, mas ocorrerá”, disse.
O comportamento favorável dos preços já pode ser percebido com mais intensidade nos alimentos. “Em janeiro, todos os grupos estavam subindo no IPA, com os alimentos in natura avançando 7,60%. Em fevereiro, a alta deste item já recuou para 2,48%”, exemplificou, citando casos de deflação do tomate (de 37,47% para -15,81%) e da batata-inglesa (de 7,48% para -5,57%). Quadros ressalta que este grupo de alimentos vinha encarecendo desde dezembro e que este avanço não se sustenta mais. “O ciclo de elevação dos in natura já ficou para trás e, a partir de agora, outros alimentos também vão passar a ter taxas negativas”, disse.
Outro item que deve contribuir para o recuo do IPA é o milho, no âmbito das matérias-primas brutas, que já atingiu um “teto” de alta de preços, na avaliação do economista, após avançar 9,68% em janeiro e 17,79% em fevereiro. De acordo com Quadros, a soja também já demonstra arrefecimento nos preços. Em janeiro, a oleaginosa teve alta de 1,83%, pressionada por estimativas de que a safra possa ser levemente menor que a esperada inicialmente devido a questões climáticas pontuais. Em fevereiro, a soja em grãos registrou deflação de 1,45%.
Preços ao consumidor
O movimento é similar no IPC, em que as diferentes pressões inflacionárias do início do ano já não devem pesar sobre o resultado de março. Entre janeiro e fevereiro, o IPC passou de alta de 1,48% para 1,19% e pode recuar para o nível de 0,60% no mês que vem, de acordo com o economista da FGV. Se confirmada, a taxa será bastante inferior à variação de 1,42% registrada no terceiro mês de 2015 e possibilitará um recuo da taxa acumulada em 12 meses, que atualmente está em 10,43%, para abaixo dos dois dígitos. Para 2016, Quadros estima um avanço entre 7% e 8% no Índice de Preços ao Consumidor.
Em março do ano passado foi o reajuste de cerca de 28% na energia elétrica que pressionou o índice. Neste ano, o cenário é inverso. O governo anunciou a passagem da bandeira tarifária de vermelha para amarela no mês que vem, o que deve reduzir o preço das contas de luz no País e aliviar a inflação aos consumidores finais.
Outro alívio será a dissipação das pressões de alimentos e mensalidades escolares, que foram significativas no primeiro bimestre. Do recuo de 0,29 ponto porcentual (p.p.) da variação do IPC entre janeiro e fevereiro, -0,24 p.p. veio do grupo Alimentação e -0,12 p.p., de Educação Leitura e Recreação. “Percebemos que em fevereiro houve uma desaceleração forte e muito concentrada em dois grupos. Até março, além destes alívios, outros grupos também começam a ter arrefecimento”, projetou o especialista.