Os diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Vinicius Carrasco e Claudio Coutinho pediram demissão nesta sexta-feira, 7, disse ao Estadão/Broadcast o presidente do banco de fomento, Paulo Rabello de Castro. “Eles acharam que ficariam mais confortáveis fora do time do que permanecendo. O termo é demissão, mas acho que é mais suave do que isso”, afirmou.
Segundo Rabello, a “causa próxima do desconforto” é a posição da nova gestão do BNDES de se manter aberta ao debate em torno da Medida Provisória (MP) 777, que cria a Taxa de Longo Prazo (TLP). Em entrevista ao Estadão/Broadcast publicada nesta sexta-feira, 7, o presidente da instituição de fomento alertou que a fórmula proposta pelo governo para o cálculo da nova taxa de juros dos empréstimos do BNDES pode prejudicar as empresas tomadoras de crédito na instituição ao reduzir a “previsibilidade” das condições dos financiamentos.
Na entrevista, Rabello disse à reportagem que atrelar a TLP a um título público torna a taxa “muito mais nervosa” do que a atual Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que é definida a cada três meses pelo governo. Diante da repercussão, o presidente do banco negou que haja divergências dentro da equipe econômica.
“Digo taxativamente que estamos completamente alinhados. Acabei de falar com Ilan (Goldfajn, presidente do Banco Central), inclusive debati com ele o fato de que a MP é para ser debatida. Eventuais ajustes podem ser feitos, para isso tem deputado, emenda. Se não seria uma coisa autoritária.”
Além dos pedidos de demissão dos diretores, as afirmações despertaram reação do secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, que é um dos representantes do governo no Conselho de Administração do BNDES. No Twitter, Almeida defendeu a TLP e disse que a nova taxa traz sim previsibilidade e vai permitir a redução dos juros no País.
A TLP foi criada com o objetivo de reduzir a diferença que há hoje entre o custo que o Tesouro Nacional paga ao mercado para se financiar, que é a Selic (hoje em 10,25% ao ano) e a taxa que a União cobra nos empréstimos ao BNDES, a TJLP, em 7% ao ano. Nos quatro primeiros meses deste ano, o governo já teve um custo de R$ 6 bilhões por conta dessa diferença (o chamado subsídio implícito). Mas no passado recente, com um diferencial de juros ainda maior, essa conta chegou a mais de R$ 20 bilhões em 2014.
Convidados pela ex-presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques, que pediu demissão em maio, Vinicius Carrasco e Claudio Coutinho estiveram envolvidos diretamente no desenvolvimento da TLP. Carrasco era diretor da Área de Planejamento e Pesquisa, enquanto Coutinho atuava como diretor da Área de Crédito e da Área Financeira Internacional. Ao assumir, em 1º de junho, Rabello manteve toda a equipe diretora de sua antecessora.
“Eles são padrinhos intelectuais da MP, ótimos profissionais. Num momento em que a MP começa agora a entrar numa fase de discussão, eles não gostariam de estar como observadores de uma eventual modificação ou aperfeiçoamento”, justificou Rabello. O relator da MP 777 no Congresso Nacional, deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), declarou ao Estadão/Broadcast que pretende propor um modelo alternativo para a TLP, que não “aniquile” o setor produtivo. Segundo o tucano, é preciso conciliar a nova taxa com o papel de fomento do BNDES. “A MP entra com força de lei, mas ela é uma proposta, e o segundo nome é provisória. Depois vai a debate”, afirmou Rabello.