Depois de mais um ano sem crescimento, o cenário deve melhorar nas vendas de geladeiras, refrigeradores e fogões com a definição das eleições presidenciais, independentemente de quem seja o vencedor, prevê João Carlos Brega, presidente da Whirlpool para América Latina. “O grande alavancador será a esperança positiva que virá com o novo presidente eleito com 50% mais 1% dos votos e aquela motivação emocional de agora vai”, diz o executivo, que espera um crescimento de dois dígitos no setor no ano que vem.
De acordo com Brega, a mudança já será sentida em novembro e dezembro, com as vendas de Black Friday e Natal crescendo entre 3% e 5% em relação às mesmas datas de 2017. No entanto, a reação ainda será insuficiente para tirar o desempenho deste ano do zero a zero. O executivo lembra ainda que a base de comparação é bem fraca: as vendas do setor neste ano estão no mesmo patamar de 2010.
À frente da maior fabricante de eletrodomésticos do País, com três fábricas em operação e faturamento de R$ 9,4 bilhões no ano passado, Brega acredita que o primeiro e o segundo trimestres do ano que vem serão muito bons. Mas o desempenho do segundo semestre dependerá do andamento das reformas, como a da Previdência e a tributária. “O quarto trimestre será definitivo para sabermos como será 2020: se teremos um voo de galinha ou um crescimento sustentável.”
Os pedidos para o fim de ano já começaram a ser negociados com os varejistas, mas ainda estão em ritmo lento por conta da indefinição do cenário eleitoral. Otimista, a empresa já contratou temporários e acredita que não precisará dar férias coletivas nas fábricas no fim de ano. “A intenção é não parar a produção, pode ter férias numa linha ou outra.”
Custos
Além de registrar vendas estagnadas, 2018 não foi fácil para a companhia, que teve de aumentar pelo menos em três ocasiões os preços por causa de fortes pressões custos.
Pesaram nas contas a disparada do dólar – que saiu da casa de R$ 3,20 para quase R$ 4 – e os aumentos de matérias primas importantes na produção dos eletrodomésticos, como aço, vidro e resinas plásticas. Outro fator crítico foi o tabelamento do frete, que ocorreu depois da greve dos caminhoneiros.
“Sofremos um ato de terrorismo que o governo, por falta de liderança, não soube atuar e tomou o remédio inconstitucional”, diz Brega. O executivo conta que a empresa está avaliando a possibilidade de voltar a ter uma frota de caminhões próprios para reduzir os riscos do frete terceirizado.
Mudança
Faz três anos que Whirlpool começou a se reposicionar no mercado. A intenção é não ser identificada como uma fabricante de produto, mas uma empresa que oferece soluções completas aos clientes. “Eu não faço geladeiras, ajudo a preservar comida”, diz Brega. Ele observa que há em curso uma mudança na relação com consumidor, que vem sendo acelerada pela introdução da internet nos eletrodomésticos.
Neste ano, a empresa relançou uma cervejeira conectada que permite que o dono controle a temperatura, o estoque e programe a compra da bebida por meio de um aplicativo. Faz parte dos planos da empresa lançar vários eletrodomésticos conectados a partir do segundo trimestre do ano que vem.
A orientação de ter o foco no atendimento do consumidor final vem da matriz. Em abril, a Whirlpool Corporation vendeu a Embraco, uma das maiores fabricantes de compressores globais, para o grupo japonês Nidec por US$ 1,08 bilhão. O compressor é o principal componente do refrigerador. O negócio ocorreu porque, apesar de lucrativa, a empresa estava voltada para atender a outras indústrias, não o consumidor final. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.