Ex-homem forte da gestão Fernando Haddad (PT), cujo nome foi citado na Máfia do Imposto sobre Serviços (ISS), Antonio Donato (PT), de 54 anos, foi eleito ontem presidente da Câmara Municipal de São Paulo com o apoio de 46 dos 55 vereadores. Até o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab votou no petista, após manter a vice-presidência com Edir Sales – a sigla deve agora voltar à base e arrefecer a obstrução de projetos nas votações previstas a partir de hoje.
Donato volta ao centro da política paulistana após mais de um ano de discrição. Ex-presidente do Diretório Municipal do PT e coordenador da campanha de Haddad em 2012, ele agora tem em seu poder a definição das pautas das votações do Legislativo.
Um dos fiscais presos durante o escândalo que desviou dos cofres municipais até R$ 500 milhões, Eduardo Horle Barcellos trabalhou no gabinete de Donato de janeiro a abril do ano passado. Ontem, o presidente eleito da Câmara voltou a se defender das denúncias. “Estou há mais de um ano prestando todas as informações necessárias ao Ministério Público. Nunca fui indiciado em nada”, afirmou Donato.
O petista foi eleito sem concorrentes. Os partidos disseram ter respeitado a “regra da proporcionalidade” das maiores bancadas na composição dos cargos. Das bancadas da base governista, a surpresa foi o PMDB, com quatro parlamentares, se abster – o partido fica fora da Mesa Diretora em 2015, ao ser preterido pelo bloco DEM-PR, formado por cinco vereadores. Toninho Paiva (PR), ligado ao mercado imobiliário, ficou com a segunda vice-presidência. O PMDB continua no governo, com três secretarias.
O PSDB votou no petista e ganhou a primeira-secretaria, com o vereador Aurélio Nomura. Os tucanos também ganharam a primeira suplência com o vereador Eduardo Tuma, citado recentemente em esquema criminoso de facilitação na emissão de alvarás da Prefeitura. Ele nega as acusações.
O vereador José Police Neto, líder do PSD, disse que a composição da Mesa não significa que o partido se alinhou com o governo. “Não é por causa do PSD que o governo não vota. É porque eles não conseguem entendimento para colocar mais de 30 vereadores da base para votar”, afirmou o vereador aliado de Kassab. “Precisamos hoje de um diálogo mais moderno e transparente com o Executivo. E isso não existe.”
PT mais forte
Com a volta ao centro do poder da política municipal, Donato também deve levar ao governo, com mais força, as demandas do PT pouco aceitas por Haddad.As lideranças da sigla ainda criticam o prefeito pelo fato de ele não ter ajudado “com mais afinco” a campanha ao governo estadual de Alexandre Padilha. Outra prioridade do novo presidente é ampliar o debate sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo, prevista para ser votada no ano que vem.
Em seu discurso após a eleição da Mesa Diretora, por volta das 12h49, Donato elogiou o atual presidente da Câmara, José Américo (PT), que foi eleito deputado estadual em outubro graças ao apoio político que Donato deu à sua candidatura em bairros da zona sul.
Ao final da eleição, sobrou de consolo ao veterano Dalton Silvano, do PV, o cargo de corregedor da Câmara em 2015. Criado em 2003, o órgão jamais fez qualquer investigação que apontasse desvio de conduta dos parlamentares.
Periferia
Donato prometeu levar as sessões da Câmara à periferia. Ele afirmou que vai fazer uma das três sessões semanais, aos sábados, nas subprefeituras espalhadas em 32 distritos. “Os vereadores precisam se esforçar para tentar diminuir esse distanciamento do povo em relação ao que é decidido no centro do poder”, afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.