O basquete brasileiro agoniza e os Jogos Olímpicos do Rio-2016 escancararam a sua fragilidade. Foram cinco derrotas em cinco partidas da seleção feminina na Arena da Juventude, em Deodoro, e apenas duas vitórias em cinco confrontos do time masculino. As duas equipes foram eliminadas na primeira fase da competição. O desempenho ruim no maior evento esportivo que o País já recebeu reflete a penúria enfrentada pela modalidade nos últimos anos, especialmente entre as mulheres. O pessimismo gerado com os fracassos seguidos, aliado ao cenário atual, pode afetar ainda mais o futuro do basquete do Brasil.
Presidente da Federação Paulista de Basquete (FPB), Enyo Correia aponta que o fraco desempenho das seleções nacionais tem afetado diretamente no desenvolvimento do esporte. “Os resultados internacionais negativos dificultam a massificação do basquete, a criança não se sente estimulada a jogar. Estamos sofrendo com isso”, afirmou o dirigente em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S.Paulo.
A falta de perspectiva também está associada à realidade vivida pelos clubes brasileiros. No feminino, apenas seis equipes disputam o Campeonato Paulista – São Bernardo, Santo André, Jundiaí, Franca, São José e Presidente Venceslau -, por exemplo. A tabela irregular, composta por jogos seguidos e depois longo espaçamento, é uma forma de se adaptar às necessidades dos participantes.
Custo das viagens, cronograma conflitante com outras competições e até divisão de quadra são as justificativas desse cenário catastrófico. “Quando um clube tem de fazer uma longa viagem, ao invés de jogar no sábado e também no sábado da semana seguinte, a equipe faz uma única viagem e joga sábado e domingo, em dias seguidos, podendo dar esse espaçamento em virtude dos custos para o clube”, explicou o dirigente. É dinheiro que se economiza.
E Arilza Coraça, técnica do Santo André, faz seu diagnóstico. “Tivemos Olimpíada, Jogos Abertos, Regionais e, por causa disso, o Paulista foi se adequando. A Federação atendeu aos pedidos dos times. Há outros impedimentos. Nossa quadra não é usada só pelo basquete feminino, dividimos com vôlei masculino, basquete em cadeira de rodas e outras categorias”.
A falta de “testemunhas” nas arquibancadas vazias em Jundiaí (SP) na vitória do São José sobre o time da casa, por 95 a 63, na noite de 23 de setembro, uma sexta-feira, não é exceção. A armadora Cacá Martins, de 24 anos, reconhece o declínio da modalidade. “O basquete feminino já vem com dificuldade há bastante tempo. Peguei uma boa fase do Paulista. Quando comecei, achava competitivo. Hoje, temos de conviver com poucos times e às vezes o salário não é tão bom, a competição acaba ficando mais fraca”, comparou.
A jogadora, com passagem pela seleção, deixou o São Bernardo no mês passado e está à espera de um clube para poder disputar a Liga Nacional de Basquete Feminino (LBF). Tenta manter a boa condição física por conta própria e, enquanto isso, passa a dar mais atenção para a graduação de Pedagogia. Ela não é a única atleta que faz faculdade. A treinadora Arilza conta que muitas de suas jogadoras também são estudantes.
A Federação Paulista de Basquete trabalha para que o Estadual de 2017 tenha 10 equipes femininas. Americana, campeã dos Jogos Abertos no último dia 18, optou por não disputar o Paulista este ano. “Nossa ideia é 100% de isenção na taxa de arbitragem aos clubes, não só no feminino. O número de times do masculino no Paulista é superior, mas vem caindo, principalmente na base, que é o celeiro dos times no futuro”, disse Enyo Correia. A condição dos Regionais enfraquece a seleção.
Preocupada com o restante do ano, Arilza pede ações imediatas. “Ao invés de pensar em 2017, deveríamos olhar para 2016. Vi um comunicado que, a partir de outubro, a mensalidade da Federação aumentará. Não é momento de propor aumento”, criticou. Ela lembra da época em que as atletas e a comissão técnica do time do interior se envolveram na coleta de latinhas de alumínio na rua, papelão e jornal para aumentar a arrecadação. “Estou vendo chegar esse tempo outra vez”, disse. “Estamos em um momento de crise. Não consigo vislumbrar perspectiva boa daqui até o fim do ano. Quero acreditar que a partir de 2017 tudo vai melhorar. Sou otimista, mas vejo uma situação sombria para o esporte em geral”.
O presidente da FPB, com mandato até fevereiro de 2020, alega que a sua maior dificuldade é a questão financeira. Segundo Enyo Correa, a captação de recursos esbarra na crise do País e a Olimpíada concentrou boa parte dos investimentos. Ele diz que a dívida acumulada pela Confederação Brasileira de Basquete (CBB), de R$ 10 milhões, “respinga nos Estados.” E assegura: “A Federação pode fazer um pouco mais”.