O retorno ao trabalho dos peritos Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nesta semana, após mais de quatro meses de greve está levando uma multidão de segurados aos postos.
Em Fortaleza (CE), segurados chegaram a ficar até nove horas na fila. “Isso é um descaso muito grande com a saúde pública. É a terceira vez que venho a Fortaleza para resolver um auxílio-doença e não avança.
A greve me prejudicou bastante”, disse a professora Maria da Glória Silva, moradora de Paracuru, a 80 quilômetros da capital. Ela conta que chegou ao posto às 6 horas e foi atendida às 15h30.
Maria da Glória deu entrada no pedido de auxílio-doença e vai ter de esperar o resultado da avaliação médica. A unidade do INSS no bairro de Messejana, onde ela estava, só atendeu perícias para pedido de auxílio doença. Pessoas que buscavam aposentadoria por invalidez, casos de acidente de trabalho e aposentadoria especial tiveram de voltar para casa.
“Ficou uma demanda reprimida que só será solucionada com pelo menos mais uns cinco a seis meses. Atendíamos em média 17 mil pessoas por mês antes da greve”, diz a delegada da Associação Nacional dos Médicos Peritos da Previdência Social em Fortaleza, Ana Francisca Nogueira Martins.
Após várias tentativas no período da greve, o ex-carreteiro Osmair Batista de Oliveira, de 61 anos, não conseguiu agendar ontem uma nova perícia na agência central de Sorocaba (SP). Ele foi informado que seu processo não estava disponível e tem de voltar à agência na próxima semana.
Oliveira tenta uma revisão em sua aposentadoria de um salário mínimo, conseguida após 30 anos como motorista de carreta. Em 2002, ele foi rendido por criminosos. Além de assaltá-lo, os bandidos o agrediram na cabeça com uma chave inglesa. O carreteiro ficou quatro meses em coma e, quando se recuperou, estava inválido. O afundamento no crânio, ainda visível, afetou o sistema nervoso central e ele tem dificuldade nos movimentos e na fala.
Inconformado com o valor da aposentadoria por invalidez, ele entrou com ação e fez várias perícias, mas o processo não terminou. Quando faria aquele que seria o último exame, em setembro, os peritos estavam em greve. Oliveira conta que o dinheiro mal dá para os remédios. “Tomo três para a cabeça, um para a pressão e outro para o estômago e é difícil conseguir todos na farmácia pública.”
Na agência Centro de Porto Alegre (RS), o pintor Nelson Cardoso Rodrigues, de 55 anos, aguardou cerca de uma hora para reiniciar um processo. Ele tem um glaucoma derivado da diabetes e está com a visão comprometida. “O patrão me mandou embora, mas o INSS diz que tenho condições de trabalhar. Talvez quando eu perder totalmente a vista, eles me darão o benefício”, afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.