Os tiroteios em favelas tidas como “pacificadas” pelo governo do Rio prosseguiram nesta quarta-feira, 30, um dia depois do assassinato de Eduardo Felipe dos Santos Victor, de 17 anos. Os cinco policiais militares acusados da morte do adolescente e de forjar um confronto com a vítima foram presos.
Victor, que, segundo moradores, integrava a quadrilha de traficantes da Providência, foi enterrado à tarde no cemitério São João Batista (Botafogo, zona sul). Horas antes, moradores tinham atacado a pedradas os ônibus da viação São Silvestre que saíam da favela, destruindo 12 deles, como forma de protestar contra o crime.
No velório, pediram a retirada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade. A família evitou os jornalistas, mas se manifestou pelo Facebook. “Gostaria de pedir a todos que respeitem os meus sentimentos e dos meus familiares. Queremos preservar apenas as boas lembranças que meu filho nos deixou”, escreveu a mãe, Patrícia Santos.
Já no dia do crime a comunidade protestara com violência. Dois ônibus foram apedrejados perto da estação ferroviária Central do Brasil, vizinha à Providência. Envolvido no quebra-quebra, Anderson Santana, de 28 anos, morador da favela, morreu após chutar com violência o vidro de um ônibus. Um estilhaço perfurou sua veia femoral, e ele não resistiu à hemorragia, morrendo no asfalto.
Os cinco policiais flagrados pelas filmagens foram indiciados por fraude processual. Um outro inquérito investiga se Victor foi executado ou participava de troca de tiros entre PMs e bandidos. Os soldados Éder Ricardo de Siqueira, Gabriel Julião Florido, Riquelme de Paulo Geraldo, Paulo Roberto da Silva e Pedro Vítor da Silva trabalhavam na UPP da Providência e estão presos no Batalhão Prisional. Eles respondem ainda a processo na Justiça Militar. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, não quis dar entrevista sobre o crime. Na véspera, em nota, anunciara “rigor nas investigações, com punição exemplar dos responsáveis”.
Sonhos
Victor, o Pintinho, sempre foi muito popular na Providência, segundo relatos de conhecidos. Seus pais são divorciados e moram na favela. O adolescente já vinha sendo monitorado pela polícia por envolvimento com o tráfico de drogas e tinha três antecedentes: por ameaça, injúria e tráfico de drogas. Uma filmagem da PM mostra ele vendendo entorpecentes em uma boca de fumo da Providência.
“O Estado não deu oportunidade para este jovem. Não queremos UPP, queremos Justiça. A UPP faz mal para a comunidade”, disse o comerciante Pablo Rodrigues, ex-presidente da Associação de Moradores da Providência. “A família dele é unida, é de igreja. Sempre um passa para o lado errado. Mas ele era uma pessoa boa e a família estava tentando resgatá-lo”, afirmou a corretora de seguros Railda França, amiga da família.
Victor faria 18 anos em outubro. Seu sonho, disseram, era ter uma festa. Há cerca de quatro anos deixara de ser coroinha na Igreja Santa Rita de Cássia, no centro, onde sete crianças e adolescentes costumam ajudar os padres nas missas. Seu tio, o advogado Leonardo Victor, de 34 anos, toca nas celebrações católicas. “Manifestamos nossa dor e nosso repúdio a essa atitude de um agente do Estado”, declarou.