Após pressão de deputados da oposição e de estudantes até de críticas de parlamentares governistas, o presidente da CPI da Merenda na Assembleia Legislativa, Marcos Zerbini (PSDB), recuou da ideia de impor sigilo aos documentos da investigação sobre a máfia da merenda em São Paulo e aceitou incluir políticos suspeitos de integrar o esquema na lista de depoentes.
Em mais uma sessão tumultuada, a CPI aprovou a convocação de três delegados de polícia e de um ex-funcionário da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) para prestarem depoimento na próxima terça-feira, 9, sobre a denúncia e investigação do esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina em contratos da entidade com prefeituras e o governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Serão ouvidos os delegados José Eduardo Vasconcelos, Paulo Roberto Montelli e Mário José Gonçalves, responsáveis pelo início das investigações na cidade de Bebedouro, no interior paulista, que resultaram na Operação Alba Branca, e João Roberto Fossaluzza Junior, ex-funcionário da Coaf que delatou o esquema às autoridades. Além deles, será ouvido o corregedor-geral do Estado, Ivan Agostinho.
Com exceção do corregedor, nenhum dos demais convocados estava na lista de depoentes apresentada pelo relator Estevam Galvão (DEM). Alvo de críticas, o plano de trabalho proposto por Galvão poupava todos os deputados citados na investigação de prestar depoimento, entre eles o presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB), acusado de ter recebido propina no esquema. Ele nega.
Depois das críticas feitas pelos deputados Alencar Santana e João Paulo Rillo, ambos do PT, e até de governistas como o deputado Barros Munhoz (PSDB), Zerbini e Galvão concordaram em incluir no roteiro de trabalho a convocação de agentes políticos. Além de Capez, são citados os deputados estaduais Luiz Carlos Gondim (SD) e Fernando Cury (PPS), e os federais Baleia Rossi (PMDB), Duarte Nogueira (PSDB), ex-secretário dos Transportes do governo Alckmin, e Nelson Marquezelli (PTB).
Sigilo
Zerbini também foi criticado por opositores e aliados quando disse que os documentos da Operação Alba Branca são sigilosos e que o acesso a eles seria restrito e controlado: em uma sala especial da Alesp sob vigília de um funcionário da Casa. “Isso é um absurdo, é inaceitável. Além da blindagem querem cercear nosso trabalho de investigação nesta CPI”, criticou Alencar Santana. “Isso jamais pode ser considerado sigiloso. São documentos de interesse do povo paulista”, emendou Barros Munhoz (PSDB).
Sob gritos de estudantes ameaçando uma nova ocupação no plenário, como ocorreu em maio, Zerbini recuou da medida e concordou em ceder uma cópia dos documentos a cada um dos membros da CPI, que serão responsáveis por garantir o sigilo das informações.
“Mais uma vez a oposição e a pressão popular e da opinião pública foram determinantes para impedir a blindagem que a tropa de choque de Capez e de Alckmin tenta impor na CPI”, disse Santana. “Nós não temos intenção de blindar ninguém nessa CPI. Nossa intenção é mostrar para a sociedade que estamos fazendo um trabalho sério, doa a quem doer”, rebateu Estevam Galvão.