Um mês após o Conselho Superior da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) negar a criação de uma cátedra ao filósofo Michel Foucault, a instituição amanheceu nesta sexta-feira, 29, com uma placa em homenagem ao pensador. Fixada no prédio central da universidade, próximo à reitoria, a placa tem o nome e a data de nascimento de Foucault e a frase “vive aqui”.
Em nota, a PUC apenas confirmou a presença da placa no prédio, mas disse não ter sido informada sobre quem a colocou. Também não informou se o Conselho Superior já avaliou o pedido do Conselho Universitário, formado por professores e funcionários, de rever a decisão.
Na quinta-feira, 28, alunos e professores da universidade fizeram uma aula pública em homenagem ao filósofo. Na segunda-feira, 25, a senadora Marta Suplicy também participou de um protesto na PUC para a criação da cátedra.
Segundo representantes da Associação de Professores da PUC (Apropuc), a recusa do Conselho Superior teria sido motivada pelo fato de as ideias de Foucault não estarem em consonância com os princípios católicos. No entanto, a justificativa da decisão não foi formalmente apresentada. O conselho superior é o órgão deliberativo máximo da PUC-SP, formado pela reitora Ana Cintra, cinco bispos auxiliares da Arquidiocese de São Paulo e o cardeal d. Odilo Scherer. O Conselho Universitário entrou com um recurso contra a decisão.
A cátedra universitária é uma instância acadêmica destinada a fomentar o debate em torno de algum pensador ou teórico e para a preservação e atualização de seu trabalho. Foucault é conhecido por suas críticas às instituições sociais, entre elas a Igreja Católica. Além disso, era homossexual e foi uma das primeiras figuras públicas francesas a morrer por complicações da aids.
A cátedra foi proposta à universidade em 2011, quando iniciaram as negociações para que recebesse a doação de uma coletânea de áudios de aulas de Foucault no Collège de France, entre 1971 e 1984. Os áudios já estão disponíveis na biblioteca do Departamento de Filosofia da PUC desde 2012. A universidade até montou uma plataforma eletrônica para oferecer os áudios para alunos e pesquisadores e evitar a reprodução e degradação dos arquivos. Caso não seja criada a cátedra, a universidade pode perder os áudios.