Quando anunciou que se aposentaria do esporte ao fim da temporada de 2015 – que acaba daqui a um mês -, Maurren Higa Maggi argumentou que “não tem como fazer tudo com qualidade” e que, por isso, iria pendurar a sapatilha para se dedicar à carreira de comentarista de TV. Mesmo assim, entretanto, renovou até a próxima Olimpíada a sua Bolsa Atleta, de R$ 3,1 mensais, cujo requisito obrigatório é: “continuar treinando e participando de competições internacionais”.
Em rápido contato com a reportagem às vésperas de sua estreia na Dança dos Famosos, da TV Globo, Maurren negou que esteja aposentada. “Eu não parei, estou parando”, disse à Agência Estado, por telefone, a atleta, que participou de uma única competição oficial na temporada, em março, em Campinas (SP). Questionada sobre a Bolsa, Maurren pediu para a reportagem retornar a ligação em meia hora. Depois, não mais atendeu as insistentes ligações ao seu celular.
Técnico dela, Nélio Moura disse que Maurren ainda está treinando, mas “cada vez menos”. “Esse ano a gente não tem mais nada de competição. No ano que vem, ela espera fazer a despedida dela. A próxima temporada deve ser a última”, afirmou ele, negando que a campeã olímpica tenha se aposentado. “Até vi um texto de que ela teria falado alguma coisa no ar, mas oficialmente ela não parou. Não me disse nada nesse sentido”, garantiu o treinador. Também ele, quando questionado sobre a Bolsa Atleta, pediu para a reportagem retornar a ligação em outro momento e, depois, não respondeu mais aos contatos.
Maurren anunciou a aposentadoria ao vivo, no dia 19 de abril, durante a transmissão na Globo de um evento que teve participação do velocista jamaicana Usain Bolt. “Como todo mundo sabe, não tem como fazer tudo com qualidade. Tudo tem seu tempo. Então, esse é o último ano da minha carreira, vou fazer com qualidade o Time de Ouro”, disse, em referência à equipe de comentaristas do canal.
A saltadora chegou a se inscrever para o Troféu Brasil de Atletismo, mas não competiu, alegando contusão. Nélio chegou a afirmar que o plano era que ela fizesse uma prova em junho ou julho, o que não aconteceu.
Maurren cumpre, sem dúvida, o primeiro requisito para ter renovado a Bolsa Atleta na categoria olímpica no período de agosto/2015 até julho/2016: ter participado dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Mas a Medida Provisória 502, de 2010, exige que o atleta “continue treinando e participando de competições internacionais”.
No ano passado, Maurren lançou uma campanha online na internet para financiar seus treinos visando os Jogos do Rio e conseguiu arrecadar R$ 44 mil dos R$ 100 mil planejados. Mesmo com os recursos obtidos, não auferiu nenhum resultado durante toda a temporada de 2014, conforme mostram as bases de dados da CBAt, da IAAF e do site All-Athletics. Questionado, Nélio afirmou, brevemente, que ela participou de uma competição na Espanha, não localizada pela reportagem.
Em 2015, é fato que Maurren não esteve em eventos internacionais e participou apenas de uma etapa do Campeonato Paulista. Não fez índice para o Mundial de Pequim, que começa no próximo dia 22, e também não tem expectativa de participar dos últimos eventos da temporada, que acontecem nas duas semanas seguintes ao Mundial. Até a Olimpíada, entretanto, vai custar R$ 37,2 mil ao Governo Federal.
EX-ATLETA? – Outro ex-atleta em atividade é o técnico da seleção feminina de tênis de mesa Hugo Hoyama, que renovou, na semana passada, a sua Bolsa Atleta na categoria nacional. Ele também esteve nos Jogos de Londres e, por isso, teria direito à bolsa olímpica (de R$ 3,1 mil). Mas, diferentemente de Maurren, o mesa-tenista admite que não compete mais em alto rendimento e, desde que assumiu o comando técnico da seleção feminina, abriu mão deste direito.
Desde o ano passado, Hoyama recebe o benefício nacional (R$ 925 mil). Ele alega que ainda atua como atleta, jogando pelo São Bernardo/ASA/Palmeiras-SP, ainda que não participe mais de eventos internacionais. No ano passado, foi medalhista de bronze do Campeonato Brasileiro de Duplas e Clubes, um torneio que, diferente do Campeonato Brasileiro de Tênis de Mesa (realizado separadamente), não atrai a elite da modalidade no País. Os resultados de ambos, entretanto, são válidos para o Bolsa Atleta.
Assim, mesmo o tênis de mesa sendo uma modalidade individual, todo ano o governo premia sete atletas diferentes como campeões brasileiros adultos no masculino: simples, duplas e equipe (formada por quatro mesa-tenistas).
“Apesar de acompanhar a seleção em todas as competições como técnico, ainda jogo pelo São Bernardo/ASA/Palmeiras e tenho custos como atleta. Fico feliz em saber que o fato de eu receber não interfere na contemplação de outros mesa-tenistas mais novos, que também obtiveram os resultados necessários para receberem o Bolsa Atleta”, alegou Hugo Hoyama.