Na esteira do ciclone Kenneth, ocorrido na última quinta-feira, 25, mais uma pessoa morreu neste domingo, 28, ao norte de Moçambique. Cerca de 160.000 pessoas estão em risco, com previsão de chuvas torrenciais para os próximos dias. Autoridades afirmaram que pelo menos cinco pessoas morreram já na noite de quinta.
“Ajudem-nos, estamos perdendo tudo!”, gritavam os moradores da cidade de Pemba aos carros que passavam, enquanto as águas jorravam pelas frestas das casas. Mulheres e crianças com baldes e panelas lutavam contra a enxurrada, em vão.
O empobrecido país do sul da África ainda se recupera do poderoso ciclone Idai que o atingiu no mês passado. Mais de 1.000 pessoas morreram em Moçambique, Zimbábue e Malaui.
“É uma terrível sensação de déjà vu”, disse Nicholas Finney, líder da equipe de resposta do grupo Save the Children. Kenneth chegou apenas seis semanas depois do ciclone ter invadido o centro de Moçambique e ter matado mais de 600 pessoas.
O governo estima que mais de 160 mil pessoas foram afetadas na região predominantemente rural, muitas delas estão desabrigadas e famintas. Mais de 35.000 casas no norte de Moçambique e Cabo Delgado foram parcial ou totalmente destruídas pela tempestade e mais de 23 mil pessoas foram deslocadas para abrigos.
“Nunca vi chuvas tão fortes na minha vida”, disse Michael Fernando, um morador de Pemba, de 35 anos.
Para as próximas 24 horas, a previsão é de até 100 milímetros de chuva para algumas regiões, de acordo com o instituto meteorológico de Moçambique. Esta é a primeira vez que se tem notícia de dois ciclones em uma temporada, o que levanta preocupações sobre as mudanças climáticas.
“Continuaremos nos movendo até chegarmos a algum lugar seguro”, disse um homem, enquanto fugia ao lado de outras pessoas, carregando seus pertences em sacos plásticos. “Será que essa água nos dará um tempo?”, perguntou outro. “No momento em que tentamos fazer alguma coisa com nossas vidas, tudo começa de novo”, disse.
Resgate
Trabalhadores humanitários tentam chegar às comunidades que foram duramente atingidas fora de Pemba, neste domingo, 28, mas as condições climáticas os impede. “Helicópteros não podem voar, vários voos foram cancelados e os trabalhadores humanitários não conseguem chegar aos locais afetados”, disse Finney à Associated Press.
Ele descreveu como “devastação total” em um trecho de 60 quilômetros de costa e ilhas próximas do país, que enfrenta uma das maiores taxas de pobreza do mundo.