Sem contato com bebidas alcoólicas há exatos 10.883 dias, contados dia após dia, João Antunes Rodrigues, 69 anos, comemora a transformação de sua vida, que foi marcada pelas dores do alcoolismo. Para ele, além da iniciativa pessoal dos que sofrem com o problema para que o tratamento seja iniciado, é preciso maior atenção das autoridades no combate e prevenção à doença.
"Hoje, após 29 anos sem beber, não me envergonho em contar que fui um bêbado. Mas penso que minha história pode servir de exemplo para quem passa pelo mesmo problema", diz Rodrigues, que veio do interior de São Paulo para Guarulhos há 40 anos na tentativa de uma mudança de vida. Hoje aposentado, ele auxilia nos trabalhos no escritório de advocacia dos filhos.
Conforme as estatísticas nacionais, 12% da população brasileira tem problema com uso abusivo de álcool, sendo que 9% deste número é considerado alcoólatra.
Para vencer o vício, Rodrigues contou com a ajuda de um centro de combate ao alcoolismo na Capital, que frequenta há 29 anos. "As autoridades, governos, deveriam investir mais para atender aos alcoólatras, pois se trata de uma doença".
Em Guaulhos, a Prefeitura tem apenas um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), no Centro. O acompanhamento dos casos é feito com psiquiatra, psicólogo, assistência social e médica.
Lá, o tratamento pode ser intensivo, semi-intensivo ou ambulatorial, sendo que a frequência vai de todos os dias da semana até uma vez por semana, dependendo da gravidade. Já os casos de crise são atendidos em hospitais e policlínicas.
Centro de atendimento da prefeitura oferece poucas vagas
Segundo a Secretaria de Saúde, o local atende demanda espontânea e prioriza os casos mais graves. Atualmente, cerca de 500 pessoas são atendidas no Caps AD, entre alcoólatras e dependentes de outros tipos de drogas. Ainda de acordo com a Pasta, a maioria dos casos apresentam problemas com álcool.
A reportagem apurou que, para conseguir vaga no centro de atenção, é preciso comparecer no local às quintas-feiras, quando são liberadas apenas quatro vagas, distribuídas por ordem de chegada, após avaliação. No entanto, muitas pessoas retornam sem atendimento, de acordo com funcionários do local.
Para pacientes mulheres e adolescentes, as vagas são diferenciadas por se tratarem de públicos encaminhados a grupos menores. Nestes casos, é necessário comparecer de segunda-feira a sexta-feira, das 7h às 22h.
Iniciativa social – Na busca pela recuperação, os dependentes de álcool contam com a iniciativa de organizações não governamentais e religiosas, uma vez que o município possui somente um centro de atendimento direcionado.
Na Diocese de Guarulhos, onze paróquias prestam atendimento a 1.500 pessoas. A atenção se dá por meio do trabalho da Pastoral da Sobriedade, que atua há dez anos em todo o País com prevenção, intervenção, recuperação e reinserção social. O padre José Francisco, da paróquia São Geraldo, na Ponte Grande, conta que os encontros se dão uma vez por semana, com base em 12 passos bíblicos, em ciclos contínuos.
Já na igreja evangélica Batista da Cidade Serôdio, o pastor Ismael comenta que, embora não haja um trabalho direcionado às vítimas do vício ao álcool, a comunidade costuma realizar triagens e encaminhar as pessoas a uma casa de recuperação no interior do Estado. Ele frisa que a igreja tem projetos de ampliar essa assistência.
Para Rodrigues, além da intensificação das ações contra ao alcoolismo, falta o combate ao preconceito na sociedade. "Não é só o preconceito diante das pessoas bêbadas, em decadência, mas diante da atitude de quem decide não beber".
Caps AD
Rua Luiz Faccini, 530, Centro.
Fone: 2408-0325
Paróquia São Geraldo
Av. Guarulhos, 3.614, Ponte Grande
Fone: 2421-6750
Alcoólicos Anônimos (AA)
Plantão 24h: 3315-9333