Economia

Aposentadoria tranquila precisa de mudança de cultura e planejamento de longo prazo

As recentes e contínuas discussões sobre as mudanças no sistema previdenciário no Brasil estão sendo um sinal de alerta aos trabalhadores sobre a necessidade de se realizar um planejamento para a aposentadoria. Entretanto economistas e juristas destacam que o brasileiro, em geral, não tem o hábito de se preparar para desfrutar uma aposentadoria tranquila. E esse comportamento provoca uma série de problemas na velhice: a necessidade de continuar no mercado de trabalho para complementar a renda, queda de padrão de vida e até falta de recursos para manter as necessidades básicas de alimentação e saúde.
 
O advogado Celso Joaquim Jorgetti, da Advocacia Jorgetti, ressalta que a transição demográfica é hoje uma realidade brasileira. “Nossos idosos estão vivendo mais e as aposentadorias do regime previdenciário público são muito baixas, aquém das necessidades de uma família comum. Assim, para o trabalhador e a sua família continuarem a ter um padrão de vida aceitável, uma vez que os gastos tendem a aumentar, é necessário buscar uma complementação na renda”, afirma.
 
Jorgetti reforça que o planejamento para aposentadoria é cultural. “Estudos comprovam que os brasileiros admitem não ter um planejamento para garantir um futuro financeiro na hora de deixar de trabalhar, quer seja por não sobrar dinheiro no orçamento ou até mesmo pelo sentimento de que não vale a pena guardar o pouco dinheiro que sobra no fim do mês.
 
Outro fator importante que impede o planejamento da aposentadoria são as crises que frequentemente assolam o país atravessa, como desemprego. Até mesmo aqueles que começam a guardar dinheiro com esse objetivo não conseguem continuar devido a problemas financeiros”, analisa.
 
Na visão do advogado Thiago Luchin, especialista em planejamento previdenciário do Aith, Badari e Luchin Advogados, a perda do poder de compra dos benefícios previdenciários também é responsável pela busca de alternativas para complementar a renda da casa. “A alternativa mais comum tem sido prorrogar a parada definitiva do trabalho. Na maioria das vezes, essa necessidade decorre da falta de um planejamento da aposentadoria. Com o planejamento, é possível determinar o momento exato para se aposentar, buscando o melhor benefício. Sabendo quanto vai receber de aposentadoria, é possível adequar o modo de vida e ter uma velhice segura e tranquila”.
 
De acordo com Luchin, para desfrutar de uma velhice tranquila, o primeiro passo é buscar uma aposentadora do INSS mais vantajosa. “Isto é possível por meio do planejamento de aposentadoria. Em segundo, se tiver a possibilidade, o trabalhador deve buscar uma aposentadoria complementar. E, em terceiro, ele deve realizar aplicações e reservas financeiras e imóveis de aluguel. Assim, e independentemente da classe social do trabalhador, ele terá a possibilidade de desfrutar de uma velhice mais tranquila”, aponta o especialista.
 
O economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro, acredita que culturalmente o brasileiro não se preocupa em viver da Previdência durante sua carreira profissional. “No Brasil, não há a preocupação de viver da Previdência enquanto se está trabalhando. Mas quando a pessoa para de trabalhar e vai depender dessa aposentadoria, ela começa a pensar: ‘espera aí, esse valor que eu recebo é insuficiente para manter o meu padrão de vida.’ Por isso, você vê que cada vez mais pessoas idosas que pararam de trabalhar tiveram que voltar, pois o remédio ficou caro, e é a época em que ele gasta mais”.
 
Ricardo Natali, educador financeiro da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e responsável pelo canal no YouTube “Lucro FC”, defende que “todas as pessoas deveriam se preocupar, porque o dinheiro, no tempo, vale mais. Se a gente está pensando em aposentadoria, qualquer tipo de planejamento que você faça com mais tempo, tende a ter um resultado melhor”.
 
Complementação
 
Para Jorgetti, é essencial começar a pensar em uma complementação para a aposentadoria do INSS ainda jovem e não apenas quando se aproxima o momento de parar de trabalhar. “É importantíssimo adquirir o hábito de planejar a vida no longo prazo. É indicado que o indivíduo guarde sempre no mínimo 10% dos seus rendimentos para um fundo próprio de aposentadoria, pois depender apenas do benefício do INSS não é recomendado. É fundamental pensar em uma combinação entre futuro benefício do INSS, que será vitalício, com a geração de uma reserva própria, que deve ser iniciada quando ainda se é jovem e que tenha constância ao longo dos anos até o momento da aposentadoria. É sempre importante lembrar que quanto maior o tempo de contribuição, menor será o valor mensal poupado”, orienta.
 
Os especialistas também ressaltam que a escolha do momento da aposentadoria é extremamente pessoal e muito subjetivo e depende de vários fatores. “Influenciam muito no momento de encerrar a carreira profissional os anseios do interessado. Passar mais tempo com a família; diminuir o ritmo de vida e poder cuidar da saúde; ter mais tempo para se dedicar a projetos pessoais, trabalho voluntário; são alguns exemplos. Todavia, o mais importante é encarar a velhice não como um fardo, e sim como outro período no qual se possa desfrutar com uma renda adequada, com a melhor qualidade de vida possível”, pontua Celso Jorgetti.
 
O economista Miguel Ribeiro observa que a previdência privada é bom instrumento de complemento de renda. “A previdência privada é boa como um complemento, pois você precisa identificar o quanto a sua renda é suficiente e o quanto você precisa para sobreviver por mês. Bem, você precisa criar um fundo de previdência privada para juntá-lo com a previdência pública e ter mensalmente o que é suficiente. Agora, se a previdência social for o bastante, você não precisa se preocupar com a previdência privada, a princípio, pois este é um complemento ao plano de previdência pública. Na grande maioria das vezes, é grande parte do benefício que irá responder (pela renda total).”
 
Para Natali, é muito provável que haverá uma reforma e que esta acabe, em um determinado momento, dificultando a aposentadoria do cidadão. “Aconselho todas as pessoas a poupar, investir todos os meses para não depender exclusivamente do INSS. Atualmente, a situação já está muito difícil. A gente não pode deixar a nossa aposentadoria nas mãos do poder público, porque ele tem que garantir as nossas necessidades básicas e nós, como seres humanos, temos nossos desejos e vontades, e é possível satisfazê-los com planejamento financeiro”.
 
Outros investimentos
 
De acordo com o economista da Anefac, o tesouro direto é opção de aplicação financeira e não há a obrigatoriedade de depositar todo mês. “Então, você tem de ser regrado. Se no meio do caminho você saca o dinheiro e vai viajar para a Europa, aquele planejamento de previdência já foi embora. Na previdência privada, há profissionais cuidando do investimento. Entretanto, há nela mais taxas do que as do tesouro direto. O problema é que as pessoas geralmente não são muito regradas”, avalia.
 
Na ótica de Natali, a diversificação é o ponto forte do investidor e é o que vai trazer mais rentabilidade. “Quando a gente fala de tesouro direto, por exemplo, está se falando de um dos melhores ativos que existem. Eu diria ao investidor para buscar conhecimento e conhecer melhor as alternativas para colocar uma parte do seu dinheiro em renda fixa, que são os ativos mais seguros. Ele também deveria ter outros ativos de renda variável e esses, possivelmente, trarão uma rentabilidade maior. A gente pode falar de ações, de fundos imobiliários ou fundos de investimento. Lançar uma parte em um investimento mais seguro e outra parte em um investimento mais arrojado”, ensina o educador financeiro.
 
Mais informações www.previdenciatotal.com.br
 
 
 
 

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