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Apreensão de drogas mais que triplica no aeroporto de Cumbica em 10 anos

A apreensão de drogas no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, mais do que triplicou nos últimos dez anos. Dados obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo apontam que 1,49 tonelada de droga, principalmente cocaína, foi apreendida entre janeiro e agosto no maior aeroporto do País. E somente 10 (4,1%) dos 232 presos eram donos do entorpecente apreendido. O restante eram as chamadas “mulas” – pessoas contratadas apenas para o transporte.

Com o avanço do tráfico, policiais federais têm identificado não só o aliciamento de funcionários terceirizados do aeroporto como aumento considerável de sul-americanos entre as “mulas”, principalmente venezuelanos e bolivianos, que mais do que dobraram entre o ano passado e 2017, de 21 para 55. O total de presos até agosto (232) também já supera o de 2016 – foram 182 nos oito primeiros meses.

Os dados mostram aumento das apreensões em uma década. Em todo o ano de 2007 foram apreendidos 633 quilos, média de 52,75 kg/mês. Já neste ano, a média até agora foi de 186,6 kg/mês (alta de 253,7%).

A reportagem mapeou, por meio dos dados enviados pela Polícia Federal, os principais caminhos da droga. As cidades-destino com maior quantidade de drogas são as africanas Lomé (Togo), com 270 quilos de cocaína; Johannesburgo (África do Sul), com 165 quilos. De forma crescente, segundo os policiais, as drogas também têm como destino a Ásia, em cidades como Beirute, no Líbano (101kg); Doha, no Catar (28,2 kg); Nova Délhi, na Índia (16,6 kg). O destino final, segundo as investigações, são países da Europa, como Portugal e Holanda, e destinos turísticos na Ásia, como a Tailândia. No caminho inverso, as drogas sintéticas que vêm para o aeroporto têm como origem cidades como Barcelona (34 kg), Madri (16,7 kg), Milão (13,7kg) e Istambul (6,1 kg).

A cocaína responde por 85,4% das apreensões, com 1,32 tonelada, seguida por maconha (76 kg) e anfetaminas (72 kg). O relatório de flagrantes da Delegacia Especial de Guarulhos deste ano aponta que a substância é armazenada das formas mais diversas: em galão de sabão em pó, fundo falso de malas e até palmilha de bota.

Para o procurador de Justiça Márcio Sérgio Christino, especialista em crime organizado, a alta nas apreensões também pode refletir aumento na entrada de droga no País. Ele atribui o fenômeno principalmente à morte do megatraficante Jorge Rafaat Toumani, conhecido como o “rei da fronteira”. Ele foi morto em junho de 2016, em confronto com mais de 200 disparos em Pedro Juan Caballero, no Paraguai. “O Rafaat dominava a região da fronteira entre Paraguai e Brasil. Com a eliminação do traficante, e avanço do PCC (Primeiro Comando da Capital), criou-se um novo fluxo de cocaína no País.”

Por dentro

A presença em peso de funcionários das empresas aéreas ficou comprovada em duas operações recentes da PF, a chamada Carga Extra, que aconteceu em 2016 e também em julho deste ano. Ao todo, 17 funcionários foram presos. Policiais monitoraram uma quadrilha composta por terceirizados em áreas restritas do aeroporto. Um dos participantes do grupo já havia sido preso pelo famoso furto ao Banco Central, em Fortaleza, no Ceará, em 2005.

Os criminosos recebiam até R$ 500 mil por operação, com cerca de 220 quilos de droga por aeronave. “Geralmente são funcionários de empresas auxiliares, que prestam algum tipo de serviço para as aéreas, principalmente os que atuam no manuseio de cargas e bagagens”, diz o delegado-chefe da delegacia especial da PF em Guarulhos, Marcelo Ivo de Carvalho. Na última operação, deste ano, os criminosos retiravam a etiqueta da bagagem de um passageiro e introduziam na que tinha droga. No destino, outro integrante do grupo fazia a retirada da mala.

Em nota oficial, A GRU, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, informou que “atua de acordo com a legislação vigente e dispõe de tecnologia e infraestrutura necessárias para realizar o monitoramento e auxiliar os órgãos de segurança” que atuam no terminal. A Associação Brasileira das Empresas Aéreas informou que o tema não está em sua área de atuação.

Vida luxuosa

O traficante nigeriano Jimmy James, o “Big Boss”, foi condenado no fim de agosto pela Justiça Federal em Guarulhos a 22 anos de prisão por tráfico de drogas e outros crimes. Ele era considerado pela polícia como um dos chefes da organização responsável por levar cocaína à África.

James tinha um perfil diferente do de outros traficantes. Ele gostava de ostentar os bens que possuía. Segundo a polícia, o homem vivia em um apartamento de luxo no bairro da Vila Nova Conceição, zona sul paulistana, pagando um ano de aluguel adiantado e em dinheiro – mais de R$ 200 mil. Também tinha carros de luxo em sua posse.

Para os vizinhos, o traficante assumia diferentes personalidades. “De jogador de futebol a cantor”, explica o delegado Marcelo Ivo, da Polícia Federal. Mas o esquema do criminoso era o de tráfico de cocaína. Ele enviava a droga à África em caixas metálicas com fundo falso. O criminoso foi detido em casa, em janeiro.

Rede

Para identificar portadores de drogas e acelerar as ações, policiais que atuam em aeroportos se articularam, em 2014, para criar uma rede de treinamento e troca de informações, a Intercops. Há até um grupo de 300 agentes que se comunica pelo aplicativo Telegram (o WhatsApp russo). “A rede atualmente envolve 110 países de todo o mundo”, diz Ivo. O Programa de Cooperação Internacional em Aeroportos faz treinos presenciais e acompanha atividades operacionais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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