Estadão

Após arcabouço, Ibovespa firma leve alta de 0,14%, a 106,1 mil pontos

O Ibovespa operou em torno da linha dos 106 mil pontos ao longo da tarde, à espera do encaminhamento do texto do arcabouço fiscal, adiado do início para o fim da tarde, com algumas trocas de horário no meio do caminho, o que contribuiu para cautela dos investidores na B3 em dia de desempenho misto em Nova York, sem força compradora para ativos de risco.

Por volta das 15h40, o Ministério da Fazenda comunicou que divulgaria o texto do arcabouço antes do horário final que havia sido indicado (16h30), e o conhecimento do teor da proposta acabou firmando o índice da B3 em leve alta na reta de chegada da sessão, apesar de piora pontual no câmbio e nos juros futuros.

Assim, a referência da B3 encerrou o dia com ganho de 0,14%, aos 106.163,23 pontos, entre mínima de 105.121,74 e máxima de 106.474,75 na sessão, em que saiu de abertura aos 106.022,52 pontos. O giro ficou em R$ 21,1 bilhões. Na semana, o Ibovespa limita perda (-0,11%), mantendo ganho no mês a 4,20% – no ano, cede 3,25%.

Quando a Fazenda iniciou a divulgação do texto, depois das 15h40, o Ibovespa mostrou desempenho distinto do câmbio e dos juros futuros: enquanto o dólar se aproximava dos R$ 5, na máxima da sessão, e os juros futuros também subiam, o índice da B3 zerou as perdas do dia e sustentou leve alta até o fechamento, na ausência de surpresas negativas em relação ao que se conhecia mais cedo.

"O índice operou com volatilidade, sem conseguir firmar direção única ao longo do dia. A volatilidade tinha se acentuado com relatos de que o governo pretendia excluir uma série de itens do limite do teto de gastos na nova regra fiscal, o que não foi bem recebido pelo mercado, especialmente nos ativos mais sensíveis a juros", diz Lucas Martins, especialista em renda variável da Blue3 Investimentos.

Contudo, até o início da tarde, na contramão de Nova York, o Ibovespa, vindo de perdas nas três sessões anteriores, já buscava sustentar a linha dos 106 mil pontos pela sexta sessão consecutiva, marca reconquistada em fechamento, havia uma semana, pela primeira vez desde 8 de março. Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo espera tramitação rápida do arcabouço, e confirmou que a capitalização de bancos públicos ficará dentro do limite de gastos, conforme havia sido apurado pelo <b>Estadão/Broadcast</b>.

"Uma surpresa positiva para o mercado, no novo arcabouço, foi a exclusão dos dividendos na contabilização das receitas do governo. O dividendo acaba sendo um fator que, de um ano para outro, pode ser mais esporádico, menos recorrente. No ano passado, por exemplo, teve uma distribuição muito forte de dividendos da Petrobras que ajudou, e muito, o resultado fiscal do governo em termos de receita", diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, acrescentando que este dispositivo torna a regra menos suscetível a itens não recorrentes, que atrapalham o planejamento do governo quanto a gastos e receitas.

A S&P Global Ratings monitora os desdobramentos da proposta de uma nova regra fiscal no Brasil, mas não vê fácil aprovação no Congresso. O resultado final da futura âncora de gastos será determinante para o rating brasileiro, mas, por ora, gera mais questionamentos do que respostas, de acordo com o diretor sênior de ratings soberanos da S&P Global Ratings para a América Latina, Sebastian Briozzo, reporta Aline Bronzati, correspondente do Broadcast em Nova York.

Na B3, em dia negativo para as ações de grandes bancos à exceção de BB (ON +0,18%), com perdas entre 0,08% (Itaú PN) e 1,49% (Unit do Santander), o avanço de Petrobras (ON +2,57%, PN +2,55%) e de Vale (ON +0,86%) contribuiu para dar suporte ao Ibovespa, ambas favorecidas por dados positivos sobre a demanda chinesa. O PIB do primeiro trimestre veio acima do esperado, a 4,5% em base anual, com forte desempenho das vendas do varejo em março, o que compensou a decepção quanto à produção industrial chinesa, que avançou menos do que se antecipava para o mês.

Por outro lado, avalia o ING, o crescimento do PIB da China acima das projeções sugere não haver necessidade imediata de "estímulos maciços" à economia ou de estímulos fiscais para consumidores – em momento no qual os investidores globais vinham tomando nota da redução de juros e do corte de depósitos compulsórios definidos pela autoridade monetária do país.

De qualquer forma, refletindo a leitura positiva sobre os dados chineses do dia, tanto o minério de ferro como o petróleo encerraram as respectivas sessões em alta, dando apoio ao avanço das ações de commodities na B3. Assim, o índice de materiais básicos, exposto à demanda externa, fechou em alta de 0,68%, enquanto o índice de consumo, com exposição ao ciclo doméstico, cedeu 1,12% na sessão.

Na ponta ganhadora do Ibovespa, além das ações de Petrobras e de Eletrobras (ON +2,38%), destaque também para Rede D Or (+3,50%), Petz (+3,18%) e Cielo (+2,74%). No lado oposto, CVC (-7,55%), Hapvida (-5,51%), Dexco (-4,43%) e Locaweb (-4,43%).

"Os dados chineses, que se refletiram positivamente no desempenho das ações de Petrobras e Vale, foram o contraponto à expectativa para o arcabouço. O adiamento do anúncio acabou segurando o Ibovespa, na medida em que, até que se conhecesse o texto, sempre pode aparecer algum ruído sobre eventual mudança de última hora", diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

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