Diplomatas russos e americanos reviveram nesta segunda-feira, 10, os melhores momentos da Guerra Fria em negociações a portas fechadas em Genebra. No cardápio, o tema principal foi o futuro da Otan e o destino da Ucrânia, ameaçada pela mobilização de 100 mil soldados da Rússia na fronteira. Após oito horas, os dois lados descreveram o diálogo como "útil" e "profissional", mas sem avanços na posição dos dois países.
Rússia e EUA têm visões diferentes sobre o tabuleiro geopolítico da Europa. Moscou vê como uma ameaça o avanço da Otan em direção a sua fronteira e exige garantias de que Ucrânia e Geórgia, duas ex-repúblicas soviéticas, jamais serão aceitas na aliança militar – como querem os americanos. Washington considera a expansão da organização crucial para a segurança europeia.
Mas a lista de exigências do presidente russo, Vladimir Putin, é ainda mais ambiciosa. Ele quer que a Otan rejeite qualquer cooperação militar com a Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas, além de retirar armas e tropas do Leste Europeu, o que desmantelaria a proteção militar da Polônia e dos países bálticos – tudo isso sem qualquer contrapartida de Moscou.
Diante de exigências tão irreais, diplomatas americanos temem que o objetivo de Putin seja estipular condições que ele sabe que serão rejeitadas, para obter apoio interno e criar um pretexto para uma ação militar na Ucrânia. Outros analistas acreditam que Moscou tenha inflado o risco de guerra para obter concessões dos EUA nas negociações.
<b>Garantias</b>
Ontem, os russos disseram aos americanos que não há plano de invadir a Ucrânia. "Não há razão para temer algum tipo de escalada", afirmou Sergei Ryabkov, vice-chanceler da Rússia, após a reunião. Wendy Sherman, vice-secretária de Estado dos EUA, respondeu com cautela. "O diálogo foi uma chance de melhor compreender o outro e as prioridades de cada um."
Mesmo com a garantia russa, diplomatas europeus e americanos não descartam a possibilidade de invasão da Ucrânia. De acordo com especialistas, a decisão teria de ser tomada em breve, porque a janela para uma ação militar se fecha no final do inverno: o solo congelado começa a derreter em breve, dificultando o avanço dos tanques. Além disso, os soldados russos não podem ser mantidos longe de suas bases por tanto tempo e muitos devem ser substituídos por recrutas mais inexperientes em abril.
<b>Sanções</b>
A crise levou Rússia e EUA ao momento mais tenso da relação bilateral desde o fim da Guerra Fria, nos anos 90. Para evitar uma guerra, europeus e americanos ameaçam o Kremlin com sanções, que incluem a possibilidade de excluir a Rússia do Swift, o sistema internacional de pagamentos, limitar a capacidade dos bancos russos de converter moedas e impor controles de exportação de tecnologias avançadas de aviação, semicondutores e outros componentes.
O presidente dos EUA, Joe Biden, no entanto, ao mesmo tempo em que joga duro, não pode fechar completamente a porta da diplomacia e dar a Putin um pretexto para lançar uma operação militar. Por isso, o diálogo entre os dois se intensificou nos últimos meses.
<b>Negociações</b>
Em dezembro, Biden e Putin discutiram duas vezes o aumento de tropas russas na fronteira ucraniana. Nas conversas, o presidente americano alertou que a Rússia enfrentaria "graves consequências", incluindo sanções econômicas e financeiras, se atacasse a Ucrânia.
Os dois lados nunca demonstraram otimismo com a negociação. No domingo, a Rússia afirmou que não faria concessões e avisou que o diálogo poderia ser encerrado mais cedo. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que não esperava nenhum avanço e o resultado mais provável seria continuar negociando no futuro.
É o que vem acontecendo. Hoje, as negociações seguem em Bruxelas, em uma cúpula entre representantes da Otan e da Rússia. Amanhã, elas serão retomadas em uma reunião da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), em Viena. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>