Após uma manhã tentando se firmar no positivo, o Ibovespa se rendeu à cautela externa pré-reunião do Federal Reserve (Fed), amanhã, e terminou o pregão novamente no negativo, abaixo dos 107 mil pontos nesta terça-feira, 14. Embora a expectativa de que a inflação possa começar a ceder – após uma ata do Copom com tom mais firme e também com dados recentes de atividade mais fraca – tenha sustentado o índice em terreno positivo na primeira etapa de negócios, a percepção dos operadores ouvidos pelo Broadcast é de que uma lista de fatores que inspiram cautela ganhou a queda de braço na bolsa brasileira hoje.
Além da decisão de política monetária americana, o comportamento negativo das commodities hoje, a reiteração do rating brasileiro, mas com perspectiva negativa, pela agência de classificação de risco Fitch Ratings e a sinalização de juro alto por um tempo prolongado no cenário doméstico pesam no comportamento dos ativos hoje. Assim, o índice fechou em queda de 0,58%, aos 106.759,92 pontos, mais perto da mínima do dia (106.444,53) que da máxima (109.147,66).
"De manhã, tínhamos taxa de juros caindo com força e Ibovespa descolando de Nova York. Tivemos ata hawkish do Copom de manhã, o que pressionou os juros. Porém, mais tarde, tivemos Fitch reiterando rating soberano (do Brasil) em BB- com perspectiva negativa, citando riscos ficais, inflação e volatilidade do real. Acabou pesando bastante contra o índice (…) e passamos a acompanhar o exterior e a expectativa com o Fomc nos EUA", resume o analista da Guide Investimentos Rodrigo Crespi.
Amanhã, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve anunciar uma mudança no ritmo e na intensidade da redução dos estímulos monetários sobre a economia. E, ainda, deve sinalizar quando iniciará uma redução dos juros. A decisão é monitorada com cautela pelos mercados globais, uma vez que tem potencial de mudar o fluxo dos investimentos ao redor do mundo, afetando sobretudo países emergentes. Nos EUA, S&P500 e Nasdaq encerraram o dia com queda de 0,74% e 1,14, respectivamente, e Dow Jones caiu 0,30%.
"Na reunião de amanhã, existe uma possibilidade de o Fed ser um pouco mais duro. Se ele já entendeu que o termo transitório (em relação à inflação) pode ser aposentado, o impacto prático é a redução de estímulos antes do previsto e num número maior do que o esperado. E, com isso, temos redução da liquidez global. E países emergentes têm uma fuga de capital, uma vez que é investimento de maior risco, mais especulativo", explica Josias de Matos, especialista em finanças na Toro Investimentos.
Aqui, a indicação do Banco Central e do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, de que pretende manter os juros em patamar elevado até que os preços e as expectativas de inflação estejam ancorados teve reações diferentes dentro do mercado. Se por um lado os bancos sustentaram alta, com as ações ON e PN do Bradesco subindo mais de 1%, setores dependentes de crédito, como varejo e imobiliário, sofreram.
O destaque negativo é para as construtoras, com o índice setorial imobiliário derretendo 2,93%. "Se vc tem BC firme, juros mais altos, para o mercado imobiliário isso é complicado. É um setor muito alavancado, precisa muito de crédito para novos financiamentos. E quando a gente fala de Fundos Imobiliários, o juro alto na renda fixa atrapalha e gera uma fuga de capital", completa Matos, da Toro.
As ações do varejo também seguem sofrendo com a perspectiva de juro alto, sobretudo as ligadas ao e-commerce. Os papéis das Lojas Americanas caíram cerca de 2% e a Magazine Luiza, 5,12%. "As empresas do e-commerce são negociadas com múltiplos altos, isso significa que nessas empresas o valor está muito relacionado ao lucro que ela vai dar no futuro. Mas como você esse lucro tem que ser trazido para valor presente, com juros altos o valor desse lucro é mais baixo. Isso explica porque essas empresas de e-commerce acabam performando mal", explica Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset.
As ações ligadas a commodities também tiveram desempenho fraco hoje, com o barril de petróleo em novo dia de queda. O valor do óleo responde principalmente ao corte na projeção de crescimento na demanda global pela Agência Internacional de Energia (AIE), por conta das preocupações com a variante ômicron do coronavírus. Com isso, o barril do WTI para janeiro fechou em baixa de 0,79% e o Brent para fevereiro teve queda de 0,93%. A variação negativa teve efeito nos papéis da Petrobras, que caíram mais de 1%, tanto ON quanto PN, impactados também pelo anúncio de redução no preço do combustível feito pela empresa.
A queda no minério na China, de 2,01%, também segurou o avanço das siderúrgicas e metalúrgicas. A Vale, ação de maior peso no Ibovespa, fechou estável, em queda de 0,01%.
Apesar da queda de hoje, o Ibovespa mantém alta no mês, de 4,75%. Na semana, contudo, acumula um recuo de 0,93%.