A pista do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi fechada na tarde deste domingo, 9, após o pneu de um avião de pequeno porte estourar durante o pouso. Cinco pessoas estavam a bordo, mas não ficaram feridas, segundo informações da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Não há previsão para liberação da pista.
Após o incidente, o avião foi parar rente ao barranco, no fim da pista, já ao lado da Avenida Washington Luís, na zona sul de São Paulo.
A aeronave, um Learjet 75 prefixo PP-MIX, partiu de Foz do Iguaçu, às 12h15, com destino a Congonhas.
Com a pista fechada, voos foram cancelados e o aeroporto ficou com o saguão lotado de passageiros. Até o início da noite deste domingo e até o fechamento deste texto não havia informações sobre a reabertura da pista.
No total, 15 voos foram alternados entre 13h32 e 16h50, e 16 foram cancelados.
Em nota, a Infraero informou que, após uma "aeronave de pequeno porte pousar no Aeroporto de Congonhas, estourou o pneu do trem de pouso traseiro, causando saída de pista e parando na taxiway, às 13h32 deste domingo, 9/10". "Todas as equipes técnicas foram acionadas e as providências necessárias tomadas de imediato para a retirada da aeronave o mais rápido possível", disse.
De acordo com a Infraero, a pista principal está interditada, já a auxiliar está liberada para aviação executiva.
<b>Companhias</b>
A Latam Airlines Brasil informou que os passageiros com voos domésticos com origem, conexão ou destino em Congonhas neste domingo têm "total flexibilidade de postergar ou cancelar suas viagens sem custo, podendo remarcar ou pedir o reembolso integral sem cobrança até 15 dias da data do seu voo original". "Os passageiros que puderem optar por essa flexibilidade não devem se dirigir ao aeroporto. Essa flexibilização voluntária pode ser acessada por meio da nossa Central de Vendas e Serviços (4002-5700 nas capitais ou 0300-570- 5700 nas demais localidades do Brasil)", disse a companhia em nota.
Em comunicado, a Azul afirmou que os oito voos que tinham Congonhas como origem ou destino foram cancelados neste domingo. "A companhia ressalta que os Clientes receberam toda a assistência necessária da Azul, conforme prevê a resolução 400 da Anac, e lamenta eventuais contratempos causados pela situação", disse.
<b>Análise</b>
De acordo com Bruno Libio, diretor de Segurança do Sindicato Nacional dos Aeronautas, após a reforma realizada durante o período de pandemia a pista do aeroporto está mais segura e opera dentro de todas as especificações. Uma área de escape, chamada de Engineered Material Arresting System (EMA), foi construída na cabeceira da pista para dar mais segurança em caso de acidentes. "O problema dessa aeronave é que ela perdeu a reta com o estouro do pneu e saiu da reta da área de escape", afirma.
Segundo ele, a imagem chama a atenção pela proximidade com a avenida, mas no caso de um aeroporto no meio da área urbana não há como isso não acontecer. "Um aeroporto dentro da cidade vai ter sempre uma proximidade com o centro urbano", afirma. "Havia reclamações sobre a área de escape e então foram colocadas as EMAs, que é projetada para absorver a velocidade de pouso das maiores aeronaves que pousam em Congonhas."
<b>Aumento de capacidade</b>
O Aeroporto de Congonhas poderá operar 44 movimentos de pouso e decolagem por hora a partir de 26 de março do próximo ano, ante o limite atual de 41 operações. A declaração da nova capacidade, formalizada pela estatal Infraero, que opera o terminal, foi publicada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Em agosto, Congonhas foi arrematado pela espanhola Aena no leilão da 7.ª rodada de concessões aeroportuárias, mas a administração do ativo ainda não foi repassada à empresa.
A expansão no aeroporto é debatida há tempos no segmento e, nos bastidores, é marcada por uma animosidade entre as empresas.
O acréscimo de pousos e decolagens abre espaço para outras companhias, como a Azul, aumentarem suas operações no terminal, onde Gol e Latam são dominantes.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) afirmou à época que a expansão só deveria ocorrer após "investimentos significativos" no terminal de passageiros do aeroporto.
Para a Infraero, no entanto, os investimentos já feitos são suficientes para comportar a nova capacidade. Além de melhorias no terminal de passageiros, outros projetos são destacados por quem defende a ampliação, como a reforma da pista principal, concluída no fim de 2020, e o novo sistema e estrutura para voos internacionais de aviação executiva, que contou com R$ 222 milhões do governo federal.
Em agosto, a Justiça Federal negou uma liminar pedida em ação civil pública para que o leilão da concessão do aeroporto fosse adiado. A ação alegava a necessidade de tutela imediata devido a possíveis danos ambientais e do aumento de ruídos com a passagem da administração para o setor privado, uma vez que o edital prevê o crescimento de até 40% nas operações do aeroporto, que é cercado por bairros residenciais.
Em sua decisão, o juiz federal Caio José Bovino Greggio considerou que o certame foi previamente aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que os estudos de impacto ambiental foram apresentados e que uma audiência pública foi realizada em 2021, ocasião em que a população pôde participar e ter acesso às decisões do projeto de concessão.
O juiz também afirma que o aumento de operações em Congonhas não é líquido e certo, mas uma variável prevista no projeto que pode ou não ser implantada pela concessionária. A expansão da capacidade do aeroporto pedida pela Infraero adicionaria de 3 a 4 movimentos por hora no terminal, que hoje opera com 32 a 33 pousos e decolagens por hora na aviação comercial. A decisão também considera os possíveis impactos econômicos para a União caso o leilão fosse suspenso.
No final de julho, como o jornal O Estado de S. Paulo mostrou, moradores de bairros vizinhos do Aeroporto de Congonhas têm se queixado de alta de ruídos de aviões nos últimos meses e temem que a concessão piore a situação em bairros antes já afetados pelo barulho, como o Jabaquara, e em locais onde o incômodo aumentou nos últimos meses, como Paraíso e Jardins.
Dados da Infraero, órgão que administra os aeroportos, apontam que as reclamações por ruído nos arredores do Aeroporto de Congonhas foram de 13, nos cinco últimos meses de 2021, para 816, de janeiro a maio – alta de 6.176%. Os moradores associam a situação a mudanças de rota de voos feitas pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) em maio do ano passado. Por outro lado, o órgão federal defende que o ruído geral diminuiu 15,18%, mas sem especificar se houve aumento em algumas regiões.
Um grupo formado por presidentes e membros de associações de bairros como Moema e Vila Mariana cobrou mais estudos antes da realização do leilão e pediu que as obrigações da concessionária vencedora sejam melhor delimitadas.
O grupo se diz ainda preocupado com os impactos ambientais e relata que os aviões têm passado mais próximos de áreas verdes, como o Parque Ibirapuera. "Nós somos a favor da concessão, que o desenvolvimento da cidade aconteça, mas de uma forma mais amigável com a população", explicou o presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia (Sojal), Nelson Cury.